Primeiro sacerdote gay na África do Sul é assassinado a tiros

O imã Muhsin Hendricks, de 58 anos, que dirigia uma mesquita destinada a ser um refúgio seguro para gays e outros muçulmanos marginalizados, foi morto a tiros neste sábado, depois que o carro em que viajava perto da cidade de Gqeberha, na África do Sul, sofreu uma emboscada.

— Dois suspeitos desconhecidos com rostos cobertos saíram do veículo e começaram a disparar vários tiros contra o veículo — disse a força policial do Cabo Oriental em um comunicado.

Um vídeo com o momento em que ele sofre o ataque foi divulgado nas redes sociais e confirmado pela polícia local como o momento em que Hendricks foi morto. Enquanto o motorista do imã tentava sair com o carro, ele foi bloqueado por outro veículo, do qual saiu um homem encapuzado e apontando uma arma para o carro do sacerdote.

— Depois disso, eles fugiram do local, e o motorista percebeu que Hendricks, que estava sentado na parte de trás do veículo, foi baleado e morto — comunicou o policial.

A polícia disse que o motivo do assassinato era desconhecido e que uma investigação estava em andamento.

O vice-ministro da Justiça da África do Sul, Andries Nel, disse à mídia sul-africana nesta segunda-feira que a polícia estava “no encalço” dos assassinos e que seu departamento também trabalharia com a Comissão de Direitos Humanos da África do Sul (SAHRC) sobre o assunto.

De acordo com depoimentos online, Hendricks foi morto depois de ter oficiado um casamento lésbico, embora isso não tenha sido confirmado oficialmente.

A Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans e Intersexuais (ILGA) denunciou o assassinato.

— A família ILGA World está em profundo choque com a notícia do assassinato de Muhsin Hendricks e pede às autoridades que investiguem minuciosamente o que tememos ser um crime de ódio — disse a diretora executiva da associação, Julia Ehrt, em um comunicado.

Hendricks se assumiu gay em 1996 e no mesmo ano fundou o The Inner Circle, uma organização que oferece apoio e um espaço seguro para muçulmanos queer que buscam reconciliar sua fé e sexualidade. Ele então montou a mesquita inclusiva Masjidul Ghurbaah em Wynberg, perto de sua cidade natal, a Cidade do Cabo.

A mesquita oferece “um espaço seguro no qual muçulmanos queer e mulheres marginalizadas podem praticar o Islã”, afirma seu site.

Hendricks, tema de um documentário de 2022 chamado “The Radical”, já havia aludido a ameaças contra ele, mas preferiu não contratar guarda-costas, dizendo que a necessidade de ser autêntico era “maior do que o medo de morrer”.

O Conselho Judicial Muçulmano condenou o assassinato e toda a violência contra a comunidade LGBT, ao mesmo tempo em que sublinhou seu profundo desacordo com as opiniões do imã.

Ao menos 32 países africanos atualmente têm legislações que criminalizam relações íntimas entre pessoas do mesmo sexo. Isso representa 60% de todas as nações do continente, e metade dos países de todo o planeta nos quais a homofobia faz parte da lei.

Por ser o único país do continente africano a autorizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a África do Sul se tornou uma espécie de refúgio para muitas essa minoria. Embora a Constituição reconheça os direitos e puna a discriminação, a população LGBTQIAPN+ ainda sofre episódios de preconceitos no território. (Foto: Reprodução X).

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