Durante a pandemia de Covid-19, condições como idade avançada, hipertensão, diabetes e outras comorbidades logo foram associadas aos casos mais graves da doença. No entanto, chamavam a atenção os casos de adultos jovens, saudáveis e sem histórico de enfermidades que também evoluíam para quadros críticos. Para compreender esse fenômeno, pesquisadores do Grupo de Pesquisa em Doenças Infecciosas e Negligenciadas (GPDIN) da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) realizaram uma pesquisa com o intuito de analisar o genoma completo de pacientes jovens, sem comorbidades, que desenvolveram formas graves de Covid-19. O estudo foi recém-publicado na revista Scientific Reports.
A pesquisa é resultado do doutorado de Gabriela Dias Rocha, egressa do curso de Ciências Biológicas e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da Univasf, realizado no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Biologia Celular e Molecular Aplicada da Universidade de Pernambuco (UPE), com orientação do professor do Colegiado de Medicina da Univasf e coordenador do GPDIN, Rodrigo Feliciano do Carmo. O estudo foi conduzido em parceria com 16 instituições nacionais, sob a liderança do pesquisador da Fiocruz Recife, Luydson Vasconcelos, e do professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Pablo Oliveira.
Este é o primeiro estudo genômico na América Latina com foco exclusivo em pacientes jovens e previamente saudáveis acometidos de forma grave pela Covid-19. A equipe realizou o sequenciamento genético completo de pacientes oriundos de seis estados das cinco regiões do Brasil. O objetivo era identificar variantes genéticas raras que podiam estar relacionadas ao agravamento da Covid-19 em pacientes previamente saudáveis, mas que evoluíram para quadros graves e precisaram ser internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI).
Os resultados revelaram 104 variantes genéticas raras com potencial para comprometer o funcionamento normal de 79 genes. Esse fator pode estar relacionado à gravidade da doença nos pacientes analisados, ajudando a explicar a rápida piora clínica em indivíduos até então considerados de baixo risco. Pacientes portadores dessas variantes apresentaram uma incidência significativamente maior de Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA).
Para o professor Rodrigo do Carmo, os achados reforçam a importância dos fatores genéticos individuais na gravidade da doença e apontam caminhos para avanços em medicina personalizada voltada para infecções. “A pesquisa amplia o entendimento sobre o papel dos fatores genéticos do hospedeiro na gravidade da doença, considerando as especificidades genéticas da população brasileira, um passo fundamental para o avanço da medicina personalizada em doenças infecciosas”, afirma.