Após três anos consecutivos de seca nas cabeceiras do rio São Francisco, a situação das populações e dos agricultores que vivem de suas águas chegou a um impasse que, além de ameaçar o consumo humano, pode causar sérios prejuízos aos projetos de irrigação do Vale do São Francisco. Segundo Claudio Pereira, coordenador da Câmara Consultiva Regional do Médio São Francisco (instância do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), em seu percurso por cinco estados, cerca de 70% de suas águas são usadas para irrigação.
O rio também sofre com o assoreamento, o desmate das matas ciliares, a erosão, o sobreúso das águas, os represamentos, a poluição dos esgotos e dos efluentes industriais, a contaminação de metais pesados e dos agrotóxicos. Desta forma, além de ter parte do volume comprometido com projetos de irrigação, a qualidade de suas águas está cada vez mais prejudicada.
As soluções a curto prazo ñão existem, mas é necessário que se estabeleça uma convivência pacífica para que as perdas para todos sejam minimizadas, alerta o presidente do CBHSF, Anivaldo Miranda. O Dia Nacional em Defesa do Rio São Francisco acontece em 3 de junho próximo e vai mobilizar estudiosos e ativistas.
Conflitos
Anivaldo Miranda explica que a barragem de Sobradinho (a 466 km de Salvador) que atende a usina elétrica de mesmo nome, regulariza as vazões do alto ao baixo São Francisco. Em 2014 era de 1.300 m³ e chegou a 1.000 m³ este ano, para manter a produção de energia elétrica. Esta decisão causa impactos ambientais, como a floração de algas entre Alagoas e Sergipe, e apreensão ao setor de irrigação.
“O problema é que todos os setores possuem demandas legítimas, mas que se chocam . É inevitável que ocorram conflitos, o que nos leva a crer que este modelo de uso das águas está esgotado”, diz Miranda.
Claudio Pedreira destaca como área problemática o município de Paramirim (742 km de Salvador), onde agricultores usam a técnica de irrigação por inundação, com grande desperdício da água. Cita ainda o projeto Formoso, na região de Bom Jesus da Lapa (796 km de Salvador ) que utiliza o riacho como dreno, despejando adubo e pesticida que chegam ao São Francisco.