No momento em que diversas mulheres saem em defesa dos próprios direitos, seja nas ruas, seja nas redes sociais, um estudo revela que o Brasil é o quinto lugar no número de feminicídios em um ranking com 83 países. De acordo com o Mapa da Violência 2015, elaborado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), entre 1980 e 2013, o número de homicídios de mulheres aumentou 252%, passando de 1.353 assassinatos para 4.762 casos. As mortes têm cor e local. Mais de 55% dos crimes ocorrem dentro de casa e 66,7% deles são contra negras.
Segundo a pesquisa, as mulheres negras são as mais vulneráveis: entre elas, a vitimização cresceu 54,2% de 2003 a 2013, enquanto o homicídio de mulheres brancas caiu 9,8%. O pesquisador Julio Jacobo Waiselfisz, coordenador do programa de estudos sobre a violência da Flacso Brasil, acredita que a tendência é de que o índice de feminicídios de negras piore. “A distância entre a mulher negra e a branca aumenta drasticamente nos anos que analisamos. Há uma letalidade muito selecionada: negra, pobre, da periferia, com baixa escolaridade e que não tem benefícios sociais”, alerta.
Dos feminicídios analisados, mais da metade aconteceu dentro da casa da vítima, e um terço deles foi cometido por parceiros e ex-parceiros. “A partir dos 15, 16 anos, começa a aparecer a figura do namorado ou marido, que se converte no algoz dessa mulher. Isso marca os níveis de feminicídio”, esclarece Jacobo. A região do país com a maior taxa de homicídios em 2013 é a Centro-Oeste, com 7 mortes a cada 100 mil habitantes. Em segundo lugar, está a Norte, com taxa de 6,1 pelo mesmo grupo, seguido pelo Nordeste (5,6), Sul (4,2) e Sudeste (3,8).
O especialista ressalta que a mulher ainda sofre com a culpabilização pela violência. “A mulher morre pelo fato de ser mulher, por não ter cumprido com um papel que lhe foi designado socialmente.” Além da cultura do machismo e do ódio, Jacobo aponta como fator preocupante a noção de posse, de que elas são patrimônio, o que leva à violência doméstica, cometida por pais, filhos e maridos. “Há uma real inconsciência desse patrimonialismo: é natural que ela seja subordinada, como se não pudesse existir outra forma de relação. E assim aparecem vários mecanismos que culpabilizam a vítima. Se a mulher é estuprada, provocou; se é morta, não fez o que se espera de uma esposa.” (Correio Braziliense).