As comemorações do São João 2025 pelos recifenses revelam muito mais do que uma simples preferência festiva. É uma manifestação cultural que está profundamente enraizada na identidade do povo nordestino.
Dados de uma pesquisa inédita realizada pelo Centro Universitário Frassinetti do Recife (UniFAFIRE) através do Núcleo de Inteligência de Mercado, entre os dias 29 de maio e 6 de junho, comprovam que a maioria, mais precisamente 84,12%, festeja a data todos os anos, e mais de 50% não pretendem viajar e devem curtir a festa em família.
Para o coordenador da pesquisa e professor da UniFafire, João Paulo Nogueira, os dados comprovam um dado bastante característico da RMR, em que a celebração está fortemente vinculada ao ambiente familiar e comunitário.
“O São João é tido como um momento de reunião familiar, de fortalecimentos de laços comunitários e de valorização das tradições regionais”, afirma.
O estudo entrevistou 851 pessoas em diversos espaços públicos do Recife tais como Boa Vista, Marco Zero, Boa Viagem, Várzea, Piedade, Pina, Campo Grande, Encruzilhada, CDU e Ibura, com o objetivo de alcançar uma maior heterogeneidade de perfis em relação às perguntas.
Segundo Nogueira, além do apego às tradições locais, esse resultado pode também ser reflexo de fatores econômicos, como o custo de deslocamento e hospedagem, além da praticidade de comemorar a festa em casa ou em eventos próximos.
Outra observação interessante no estudo é que apenas 27,65% têm intenção de viajar, o que indica que, mesmo com o apelo de destinos famosos como Caruaru e Gravatá, o São João ainda é, majoritariamente, vivido de forma local e intimista. Já os 19,06% que não souberam informar apontam uma parcela da população ainda incerta ou influenciada por variáveis de última hora, como condições financeiras, segurança ou questões climáticas.
“Das pessoas que afirmaram que pretendem viajar, a escolha majoritária por Caruaru, com 27,25%, reafirmam o status da cidade como principal pólo junino do Estado e uma referência cultural para os pernambucanos”, destaca o coordenador
Gravatá, em segundo lugar com 16,04%, confirma seu papel como destino tradicional e acessível para famílias da RMR, especialmente pela proximidade da capital e estrutura de lazer. A presença das praias como terceira opção, com pouco mais de 7%, aponta para uma parcela da população que associa o feriado mais ao descanso do que às tradições juninas, mostrando a pluralidade dos perfis.
Já Bezerros, Campina Grande e Arcoverde, mesmo com percentuais menores, revelam a valorização de destinos com forte identidade cultural.
“O fato do restante dos destinos não alcançar nem 1% indica que o imaginário coletivo junino ainda está muito centrado em pólos tradicionais, evidenciando tanto a força da cultura regional quanto a concentração das opções mais acessíveis ou desejadas”, diz João Paulo.
Elementos clássicos
A maioria dos entrevistados, 42,30%, prefere o estilo tradicional que une forró pé de serra, quadrilha e fogueira, contra 9,75% dos respondentes que disseram gostar das festas grandes com artistas famosos.
“Os números reforçam que, apesar das transformações sociais e da modernização dos formatos festivos, a essência do São João permanece viva no imaginário popular. As festas familiares, preferidas por 20,45%, também demonstram um desejo por celebrações mais íntimas e seguras, reforçando o papel do São João como uma festa de reencontro e pertencimento”, reforça o professor.
Uma outra questão levantada na pesquisa foi com relação à comida junina favorita, que apontou o milho verde assado/cozido em primeiro lugar com 24,32% e a canjica em segundo com 22,68% estão tecnicamente empatados dentro da margem de erro da pesquisa de 3,3 pontos percentuais. Em terceiro estão a pamonha com 18,45% que ainda estaria empatada tecnicamente com a canjica com 22,68%. Em seguida, vem o bolo de milho com 13,98%, munguzá com 7,05%; pé de moleque com 4,82% e outras comidas com 4,23%.
“Esse conjunto de preferências reforça o vínculo emocional das pessoas com sabores que remetem à infância, à casa da avó e às celebrações comunitárias”, observa Nogueira.
No que se refere ao uso de roupas típicas no São João, o estudo apontou que mesmo com as mudanças culturais, cerca de 1 a cada 3 recifenses mantêm a tradição e a festa, neste aspecto, continua sendo uma vitrine viva da cultura regional e o traje típico com suas cores, rendas e xadrezes, permanece sendo um elo afetivo entre tradição e contemporaneidade.
“Embora 41,34% dos entrevistados tenham afirmado que não costumam usar roupas típicas no São João, é animador observar que a maioria, ou seja, 58,66%, ainda mantém viva a tradição, seja usando sempre, 34,39%, ou ocasionalmente, 24,27%”, destaca o coordenador do Núcleo de Inteligência de Mercado da UniFafire.
Para ele, os números revelam que, apesar das mudanças de comportamento, da urbanização e das influências da moda contemporânea, a prática dos recifenses de se vestir com trajes juninos resiste com força e significado.
“O uso da roupa típica é mais do que uma escolha estética. É um gesto simbólico que reforça a identidade cultural nordestina e contribui para a valorização das raízes populares. É justamente essa adesão, mesmo que parcial, que mostra o potencial de revalorização e fortalecimento desse costume, principalmente entre os jovens”, finaliza. (Foto: Edson Holanda/Prefeitura do Recife).