De um lado, parte da Polícia Civil, representada pelos sindicatos da categoria, reivindicando melhores salários e condições de trabalho. Do outro, o governo do Estado, acossado pela crise que sacode o País e sem poder responder aos pleitos dos policiais. O resultado da queda de braço é o aumento da criminalidade e a perda de capacidade de resolução de crimes, tendo como maior prejudicado o motivo primeiro da existência do aparelho estatal: o cidadão.
Nos últimos dois meses, o governo ficou longe da meta traçada contra os homicídios. A projeção de julho era não ultrapassar 226 assassinatos, mas ficou em 297. Para agosto, 220. Mas até o dia 25 já eram contabilizadas 260 mortes. Alguns homicídios, como os de maior repercussão, têm resolução rápida. Outros, em meio ao turbilhão que passa a categoria, se arrastam para ser esclarecidos.
Há dois meses, parte dos agentes, escrivães e delegados de polícia decidiram, como forma de protesto, não mais participar do Programa de Jornada Extra e Serviço (PJES). Muitos também começaram uma operação padrão que termina atrasando os procedimentos nas delegacias.
Com isso, a Polícia Civil – que já tinha um déficit de 50% no efetivo – passou a ter ainda menos poder de fogo na hora de elucidar crimes. A Força Tarefa do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), responsável pela primeira apuração dos assassinatos, perdeu duas equipes no último ano. “Durante a semana, eram três equipes nas ruas, agora existe apenas uma, e com número reduzido de integrantes”, conta, em reserva, um delegado. Apenas no mês de julho deste ano, a identificação da autoria dos homicídios no Estado caiu em 58%, comparada com o mesmo mês de 2014.
O presidente da Associação dos Delegados de Polícia de Pernambuco (Adeppe), Francisco Rodrigues, alega que a categoria não está sendo intransigente. “Sabemos que, no cenário atual de crise, aumento de salário está fora de cogitação. Mas temos outras reivindicações que ajudariam bastante no dia a dia, e para as quais o governo faz cara feia”. Ele cita a inamovibilidade, que é a garantia de que o servidor não será transferido ao bel-prazer do Executivo, além da realização de concurso de provas e títulos para delegados, nos modelos do que é feito no Judiciário.
O presidente do Sindicato dos Policiais Civis (Sinpol), Áureo Cisneiros, diz que o movimento é resultado de um processo antigo de sucateamento da entidade. “Os agentes não têm mais motivação para trabalhar, pois não há estrutura e segurança nas delegacias. Nossa luta é para mudar esse quadro”.
O governo do Estado se pronunciou através de nota, afirmando que as reivindicações não podem ser atendidas no momento, por causa da crise, e que está em constante esforço para realizar eventuais ajustes na operação das polícias em Pernambuco.
Coube ao Chefe da Polícia Civil, o delegado Antônio Barros, a declaração mais contundente sobre o caso. “É preciso que todos tenham atenção para com a sociedade e com a instituição. Não se pode destoar. O momento é de crise financeira geral, não apenas na segurança pública. Os pedidos da categoria são legítimos e o próprio governo reconhece isso. Mas é impossível atendê-los no momento. Temos que continuar trabalhando duro”. (JC).