Israel aprovou nesta sexta-feira (17) o acordo de cessar-fogo e libertação de cativos em Gaza, concluindo as etapas formais estabelecidas pela burocracia israelense para aderir aos termos anunciados na quarta-feira por mediadores reunidos no Catar.
Com a conclusão do processo, o governo israelense espera que a troca de reféns por prisioneiros palestinos comece neste domingo, com a libertação dos primeiros reféns às 12h15 (07h15 em Brasília).
O aceite final israelense à proposta foi concluído após duas votações realizadas nesta sexta-feira, primeiro no Gabinete de Segurança, um órgão restrito com apenas 11 integrantes, e depois no Gabinete de Governo, que inclui todos os ministros do governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. A acordo ainda poderá ser contestado por via judicial por iniciativas civis, mas a expectativa é de que não se crie nenhum problema para a troca dos reféns.
O Gabinete do premier afirmou que a aprovação pelo organismo de segurança foi concluído “após examinar todos os aspectos diplomáticos, de segurança e humanitários” do acordo. A conclusão do órgão, ainda segundo a equipe de Netanyahu, foi de que o acordo “favorece a realização dos objetivos da guerra”.
A primeira aprovação provocou reações diversas dentro do espectro político israelense. O presidente Isaac Herzog acolheu a decisão do Gabinete de Segurança como “um passo vital” e disse esperar que o governo “faça o mesmo em breve”.
Em sentido oposto, o ministro da Segurança Interna, Itamar Ben-Gvir, fez um último apelo para que os membros do Gabinete de Governo votem contra o acordo — principal representante da ala mais radical da coalizão de Netanyahu, Ben-Gvir afirma que a troca aprovada irá devolver “terroristas” ao território palestino, e ameaçou deixar o governo caso os termos fossem aprovados.
O primeiro-ministro do Catar descreveu o acordo e a libertação dos reféns como “a última chance de Gaza”. Em entrevista à rede Sky News, o xeque Mohammed bin Abdulrahman Al Thani defendeu a criação de um Estado palestino como um meio para a paz e disse que o “fracasso não é uma opção”.
O premier catari também elogioi a atuação de Donald Trump, que assumirá a Presidência dos EUA na segunda-feira, afirmando que sua gestão pode “criar um impacto maior” no Oriente Médio.
A formalização do acordo avançou nesta sexta-feira, um dia após um impasse travar o processo de aprovação pelo lado israelense.
O Gabinete de Netanyahu acusou o Hamas de tentar incluir novas exigências nos termos na quinta-feira, um dia após o anúncio oficial de que tanto palestinos quanto israelenses haviam concordado com uma mesma proposta. O grupo palestino rejeitou as acusações, mas o imbróglio atrasou a validação do recurso em um dia.
Em meio ao impasse, equipes de negociadores e mediadores internacionais continuaram as tratativas no Catar, com as partes internacionais envolvidas na conversa expressando otimismo com o desfecho positivo para a frente diplomática. Na manhã desta sexta (início de madrugada no Brasil), o Gabinete de Netanyahu confirmou que as desavenças haviam sido superadas.
“O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu foi atualizado pela equipe de negociação [reunida no Catar] de que termos foram alcançados para a liberação dos reféns”, publicou o Gabinete do premier pouco depois das 05h (meia-noite em Brasília). “O primeiro-ministro ordenou que o Gabinete de Segurança seja convocado mais tarde hoje (sexta-feira). O governo será convocado mais tarde para aprovar o acordo”.
O Hamas também confirmou que as negociações haviam avançado após o impasse. Em um comunicado, o chefe do Gabinete de Mártires e Prisioneiros do grupo, Zaher Jabareen, afirmou nesta sexta-feira que “os obstáculos que surgiram devido à falha da ocupação [como o Hamas se refere a Israel] em aderir aos termos do acordo de cessar-fogo foram resolvidos”.
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Em uma declaração ao canal de TV al-Arabiya, outro alto funcionário do Hamas, Bassem Naim, argumentou que o acordo só foi possível pela iminente posse do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, acusando a gestão de Joe Biden de ser “cúmplice” de Israel, ao oferecer um apoio irrestrito.
— Eu não poderia imaginar que isso seria possível sem a pressão da nova administração liderada pelo presidente Trump, porque seu enviado na região, [Steve] Witkoff, esteve aqui nos últimos dias — afirmou, acrescentando que o diplomata foi responsável de anotar pontos de discordância e “exercer pressão” sobre o governo israelense”.
A reunião apenas com os integrantes do Gabinete de Segurança de Israel, formada por 11 integrantes do governo, começou no início da tarde (manhã no Brasil), após Netanyahu se reunir com a equipe de negociação que retornou de Doha durante a noite, para uma avaliação de segurança e implementação do acordo. ( Foto: Koby Gideon/GPO /AFP).