Há pessoas cuja presença atravessa décadas não apenas pela convivência diária, mas pela forma como moldam o ambiente ao redor. Assim era — e continua sendo — o Senhor Epaminondas de Souza Dias, figura inesquecível para todos que tiveram o privilégio de partilhar com ele os dias de trabalho, as conversas e as lições de vida.
Minha memória me leva a 1983, final de ano, quando cheguei para tomar posse na Concessionária de Energia de Pernambuco. Chegamos cedo, eu e outros colegas, ansiosos e ainda inseguros diante do novo universo profissional que nos aguardava. Vários funcionários circulavam pelo escritório — eletricistas, engenheiros, assistentes administrativos — e entre eles estava um homem que, sem saber, marcaria minha história: o Senhor Epaminondas.
Ele se aproximou decidido, com um sorriso sincero, e me ofereceu não apenas um firme aperto de mão, mas um abraço acolhedor, daqueles que quebram o gelo e dizem, sem palavras, “seja bem-vindo”. Essa recepção ficou gravada em mim como símbolo do que viria a ser nossa convivência: humana, sensata e carregada de respeito.
Trabalhamos juntos por mais de doze anos, praticamente no mesmo espaço, dividindo o atendimento ao consumidor — um setor onde paciência, equilíbrio e generosidade são tão essenciais quanto conhecimento técnico. E é precisamente isso que tornava Epaminondas uma referência: era o ponto de equilíbrio da equipe. Estimado na cidade, procurado por muitos, sempre encontrava uma palavra conciliadora mesmo quando o cliente chegava inflamado pela frustração ou pela urgência de ter o fornecimento reativado.
Entre tantos episódios vividos, guardo um que espelha sua postura. Certo dia, um empresário e político local ligou exaltado, aos gritos, dizendo que iria “matar um” no escritório — gesto típico de quem perdeu o controle. Quando o avisei, Epaminondas apenas respondeu com serenidade: “deixa ele chegar que eu converso com ele.” E assim o fez. Recebeu o homem, colocou-lhe o braço no ombro — mesmo quando este recusou no primeiro instante — ofereceu água, um café, conversou. Em minutos, o ambiente já era outro. O problema era simples no fundo: inadimplência. Ele orientou como proceder, acalmou, solucionou. Resolveu o problema e preservou a paz.
Era assim, sempre. Conciliador, atento, resoluto. Um mestre em transformar tensão em diálogo, problema em solução, confronto em entendimento. Trabalhar ao lado de Epaminondas era aprender diariamente sobre humanidade, convivência e serviço público.
Certa vez, conversando sobre a história da empresa, ele recordou — com brilho nos olhos — os tempos em que ajudava seu pai a operar o antigo motor de energia instalado na Ilha do Fogo, quando Petrolina dependia daquele equipamento para funcionar.
Com informações dadas por Dácio, seu filho, mais tarde complementaria essa história com precisão: “o pai de Epaminondas, o meu avô Antônio Dias, era o mecânico responsável pelo Motor instalado na antiga Biblioteca da cidade, próxima a Igreja Matriz, muito antes da chegada da energia elétrica de Paulo Afonso. Epaminondas, ainda criança, acompanhava o pai religiosamente: estava presente na ligação, no desligamento e na manutenção do motor. Observava tudo, aprendia tudo, absorvia tudo. Porém, com o avanço tecnológico e a chegada da energia elétrica de Paulo Afonso – Ba, seu pai foi transferido para o SAE — Serviço de Águas e Esgoto, empresa que mais tarde seria sucedida pela CELPE no tocante à energia”.
Assim, o meu querido amigo Epaminondas cresceu não apenas testemunhando a modernização da cidade, mas participando dela desde a infância. Era, de fato, testemunha viva de uma era em que o progresso dava seus primeiros passos no sertão.
O tempo passou. Epaminondas se aposentou há muitos anos, e a vida — sábia e implacável — impôs o peso dos mais de 94 anos que hoje carrega. Já não o vejo há tempos, mas encontro sempre seu filho, o advogado Dácio Martins, que me atualiza com cuidado e carinho. Dácio me diz que o pai está em casa, bem assistido, cercado de atenção pelos filhos e pelos irmãos — Jussara e Sandra, já aposentadas, e Rogerinho, funcionário da Justiça Federal, como Epaminondas carinhosamente o chama — e ainda por cuidadores dedicados.
E isso me enche de alegria. Porque quem dedicou anos ao trabalho, à família e à cidade merece, na velhice, o amparo amoroso daqueles que formou e educou.
Por tudo isso, deixo aqui minha sincera homenagem ao nosso querido e eterno Major Epaminondas, como gostava de chamar seus amigos.
Que Deus lhe conceda saúde, paz e serenidade. Que siga sendo referência para Dácio, Jussara, Sandra e Rogério, seus cônjuges, filhos e netos — e para todos nós que aprendemos com seu exemplo de respeito, equilíbrio e humanidade.
Uma vida como a dele não se encerra: permanece como legado. Permanecerá sempre.
Por Rinaldo Remígio*
Professor universitário aposentado, memorialista e amigo da família.






