Em entrevista ao Blog, os docentes, Valdner Ramos e Luis Valotta, da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) relataram irregularidades ocorridas durante o processo de greve estudantil, defenderam a universidade pública de qualidade e ressaltaram preocupação com a instituição de ensino onde trabalham.
Na ocasião, eles criticaram a postura adotada pela gestão e declaram apoio aos estudantes. “Nós defendemos o movimento estudantil até o momento em que estavam focados nos problemas da Assistência estudantil. Mas a gestão jamais poderia se portar de tal forma, apresentando um problema de forma irresponsável sem a solução, dizer ‘a universidade vai parar’ é jogar uma bomba no colo dos estudantes. A instituição não tem uma lei orçamentária aprovada ou mesmo um plano de contingência que tenha sido aprovado ou se quer discutido.”, pontua Ramos.
Ele afirma que a frase sobre paralisação da universidade foi proferida pelo primeiro escalão da administração da instituição. “o Pró-reitor de gestão e orçamento disse a frase “a universidade vai parar”, mas o que nos deixa assustados é que poucos dias depois dessa informação o reitor diz aos estudantes que todas as suas demandas serão atendidas. Há um discurso desafinado, esse talvez seja o maior problema diante de uma lei orçamentária que ainda não foi votada e ainda de uma PEC que ainda está em votação.”, enfatiza o docente.
Ramos acredita que por se tratar de uma instituição de formação, a universidade deveria ser pioneira e promover uma discussão madura buscando pesquisadores e estudiosos que apresentassem os lados positivos e negativos da PEC 241 e a partir daí criar uma discussão no seio da instituição. “Infelizmente, isso não ocorreu e se instalou o caos.”, assegurou. Para Luis Valotta, professores, estudantes e os servidores no geral reconhecem o papel de desenvolvimento econômico e social que a instituição tem para a região do Vale do São Francisco. Contudo, ele aponta falhas na gestão e critica a forma como os processos ocorrem dentro da Univasf.
“Esse desenvolvimento se dá através da gestão da universidade, mas também por meio da ensino de graduação e pós-graduação, a extensão [retorno direto que damos a comunidade], a pesquisa científica que deve ocorrer em parceria com a região, e está sendo muito mal feito diga-se de passagem. Porém, isso não justifica que grupos externos a instituição aliados a grupos internos rompam com as normativas legais [que todo servidor público tem por obrigação legal saber, lembrando que é crime quando não exercida], e nós não podemos defender um estado autoritário, isso já é inaceitável na sociedade, imagine dentro da universidade que a formação das gerações futuras, daqueles que vão conduzir o desenvolvimento da nossa região?!”, desabafa Valotta.
Ele voltou a mencionar o apoio aos discentes. “Reconhecemos e apoiamos as pautas de assistência estudantil [Restaurante, moradia, transporte, bolsa, e tantas outras] nas suas diferentes manifestações, o que nós não apoiamos é uma má gestão, o uso “politiqueiro” da instituição e das categorias pra fins de interesse de grupos, isso nós não aceitamos. A universidade é autônoma, isso marco da lei, ela é parceira da sociedade, portanto, ela não pode nem fazer o que quer e nem ser refém de grupos, mas o que observamos nesse processo é que foi arquitetado em escala nacional, pois estranhamente todos esses processos deflagram ao mesmo tempo?! na mesma data?! Haja coincidência!”, argumentou o professor universitário.
Luis é enfático ao apontar as irregularidades e violações de direitos dentro da universidade durante o processo grevista dos discentes. “A gestão tem sido omissa e muitas pessoas também frente a violação dos direitos das pessoas, inclusive de discordar. Tem havido negligência nas condições de trabalho, em relação ao direito dos estudantes que não concordam, por que apesar de ter uma massa significativa que quer o movimento dessa maneira. Todos querem as revindicações, mas há uma parcela bem grande de estudantes que defendem toda essa pauta, mas não o modo como ele está sendo conduzida, afinal, eles precisam tanto quanto os demais. É importante frisar que o processo tem ocorrido de forma totalmente truculenta, parece até que estamos voltando a ditadura.”, dispara Valotta.
Sobre a suspensão do calendário acadêmico, os docentes discordam da medida adotada pela segunda vez pela Univasf. “A partir do momento que isso acontece não há mais greve. Então, é muito conveniente aos grupos que tem interesse decretar a paralisação porque nós professores que queremos dar aulas, ficamos impossibilitados, pois não podemos.”, relatam.
Eles ainda são críticos sobre as pautas estudantis, pois apontam que a assistência estudantil serviu apenas de cortina de fumaça para manipular os estudantes. “Houve um mudança de pauta em menos de 48h, saíram de pautas que era de interesse da instituição para um pauta focada em outra questão como a PEC 241, inclusive sem tempo necessário para muitos colegiados se reunirem e discutirem o processo.”, afirmam. Eles ainda questionam a postura do sindicato dos professores, “não se posicionam por conta de uma pauta e sim por que os estudantes já apoiaram greves anteriores dos professores, isso é grave! Claro que os discentes podem fazer greve, mas as pautas tem que fazer sentido, não podemos apoiar por apoiar como o sindicato está fazendo.”, frisam os docentes.
Eles ainda denunciam casos de injúrias raciais, impedimento dos funcionários exercerem suas funções, inclusive os terceirizados [que correm o risco de perder o emprego]. “As chaves dos prédios são tomadas e administração não adota nenhuma postura, além da participação de pessoas externas a universidade nas assembleias estudantis que acabam tendo direito a voto, ainda não entendemos quais as lideranças do movimento, pois hora informam que o movimento é horizontal e não há lideres, porém algumas notas são assinadas pelo Diretório Central dos Estudantes da Univasf.”, finalizam os professores.
Haverá ainda na manhã desta terça-feira (18), uma assembleia convocada pelo sindicato dos professores para discutir o indicativo de greve docente.