Maioria dos LGBTs sofre homofobia familiar, diz pesquisa

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bandeira gay

“Meu irmão apontou um revólver para o meu rosto e meu pai morreu sem falar comigo.” O relato de um homem que sobrevive em meio às cicatrizes da própria história revela a realidade sofrida por milhares de pessoas no Mundo. Waldenio Vital tem 37 anos, é barman e ator. É gay também. E por essa última e comum característica, sofreu a dor da rejeição. Pior.

Madonna, como é conhecido, sofreu a rejeição da família. “Fui expulso de casa com 13 anos. Meu pai me perguntou se eu não iria virar homem. Eu disse que não me frustraria. Cheguei a dormir na rua, morei com prostitutas e comi os restos que jogavam dos restaurantes. Nunca fui convidado para almoçar com a família no domingo e não me ligam para saber se estou bem.” Com essas palavras, ele resume o medo das Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros confirmado por pesquisadores da UFPE: 83,3% dos LGBTs acham que a família não os aprova e 59,5% conhecem alguém que foi expulso de casa por homofobia.

De acordo com a Diretora de Políticas LGBT da UFPE, Luciana Vieira, a comunidade LGBT, além das diversas violências sociais, enfrenta a homofobia intrafamiliar. “Os gays têm muitos problemas familiares, chegando ao extremo de serem expulsos de casa. O grande desafio de todos eles é o espaço da família”, opinou. A pesquisadora explica os motivos que leva a esse problema. “Normalmente, a casa é o pior lugar para se assumir. Existe um conflito de gerações, pois a sociedade foi construída com valores que não permitem a homossexualidade e que por muito tempo vigorou sem ser questionada”, analisou.

Antropólogo e fundador do Grupo Gay da Bahia (GGB), Luiz Mott, 70, sabe bem o que passam os LGBTs que não recebem apoio da família. “A mais grave discriminação é a do ambiente familiar. A família forma o posicionamento da pessoa diante da sociedade e quando um jovem não tem esse apoio pode ter diversos problemas”, atestou.

Nos últimos 20 anos, aponta, cinco gays foram assassinados pelos próprios pais no Brasil. “Muitos reprimem porque têm medo que os filhos sofram, mas eles precisam dar apoio para que os filhos possam viver bem.” Segundo levantamentos do GGB, um LGBT é morto a cada 27h no Brasil, o que torna o País o líder neste tipo de crime. Em 2015, 319 foram assassinados.

Apoio

Motivados pela tristeza de um amigo ao ser expulso de casa por assumir sua orientação sexual, alunos da UFPE desenvolveram um site que aproxima as vítimas daqueles que podem ajudar. A plataforma “Mona Migs” (www.monamigs.co) permite o cadastro de quem quer acolher aqueles que são expulsos do lar. “Acredito que a família é a instituição que depositamos mais confiança e quando somos rejeitados por isto, ficamos extremamente abalados. Com o site, mostramos que existem pessoas que se preocupam com eles e isso traz uma nova visão para a vida”, afirmou o aluno de Design Pedro Magalhães, um dos oito desenvolvedores da plataforma.

Antes de colocar o site no ar, os alunos fizeram uma pesquisa que revelou ainda que 59,8% dos LGBTs não são assumidos em casa. Desde maio o Mona Migs já recebeu o cadastro de mais de 800 acolhedores e já ajudou 10 pessoas no Brasil inteiro. Ago­ra, os jovens, estão com uma campanha no site www.catarse.me/monamigs para arrecadar R$ 20 mil para melhorias e expansão na plataforma. (Folha PE)