“Exagero.. Exagero é o número de homossexuais mortos todos os dias no Brasil”, declara Anderson Veloso em resposta a entrevista do Delegado Daniel Moreira

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    homofobia

    O delegado, Daniel Moreira, que cuida do caso do estudante de Psicologia, Anderson Veloso, declarou em entrevista ao Programa Manhã no Vale, nesta quinta-feira (05), com o radialista Carlos Britto, que há um possível “exagero” em alguns fatos da agressão sofrida pela estudante no dia 30 de abril.

    Segundo o Delegado, o jovem não está mentindo, mas que existe algum “exagero”. “Ele disse em seu relato que foi abusado sexualmente com um galho de planta, mas durante o exame, não foi encontrado vestígios desse tipo de agressão”, ressaltou o Delegado Daniel Moreira, acrescentando que de qualquer forma, houve a agressão, ele foi sequestrado e ferido, e o crime de homofobia foi real, portanto cabe protesto e repúdio. Moreira ainda pontuou que Anderson deveria ter ido à delegacia ainda no sábado (30) quando aconteceu o abuso. Mas ele foi na segunda-feira (02) e ao ser solicitado o exame de corpo delito, o jovem também não compareceu no dia e horário solicitados.

    Em resposta as declarações do Delegado, Anderson postou uma nota em sua rede social, onde relata em detalhes a demora em realizar o exame e o porque de não ter registrado o boletim de ocorrência no dia do crime. Veloso ainda destaca que seu boletim de ocorrência não foi registrado como homofobia e sim, como tortura e roubo. O estudante tem ganhado apoio por parte dos internautas, comunidade acadêmica e movimentos sociais e de gêneros, que realizaram na tarde desta quinta-feira (05), um ato público pelo Direitos Humanos e LGBTT.

    Acompanhe a nota na íntegra:

    “Depois de ver a entrevista dada hoje pelo delegado Daniel Moreira, que está acompanhando meu caso, não poderia estar de outra forma a não ser indignado. Para além desses vários sentimentos que estão dentro de mim agora, achei necessário primeiramente esclarecer algumas questões sobre o caso. Bom, depois do ocorrido, eu e mais alguns amigos fomos ao Hospital Universitário para que eu passasse por uma bateria de exames a fim de observar se teria acontecido algo como uma fratura, por exemplo. Fiz alguns exames para analisar a cabeça, o abdômen e o ânus, que foram as partes mais atingidas; aparentemente não foi constatado nada de grave, mas tomei alguns medicamentos junto a um soro e fui liberado. Depois disso, retornei a casa dos meus colegas e como estava muito nervoso ainda, pensei em ir à delegacia apenas no domingo de manhã.

    No domingo pela manhã, procurei a delegacia logo cedo, mas me deparei com uma placa na porta que trazia: Horário de funcionamento – seg a sex: 08 às 18. Após ver isso, me lembrei de uma vez que sofri uma ameaça e fui procurar uma delegacia para prestar o Boletim de Ocorrência, iria a que se localiza no Ouro Preto, mas o taxista que me conduzia disse que havia uma mais próxima, era a que se localizava na Vila Mocó. Quando cheguei, em uma conversa, uma moça me disse que era pra eu ter ido diretamente para a delegacia que ficava na Vila Mocó mesmo, pois o bairro onde eu moro era de jurisdição de lá e a delegacia do Ouro Preto teria feito o encaminhamento para a delegacia da Vila Mocó. Pensando nisso, eu achei melhor esperar que a delegacia da Vila Mocó abrisse –segunda-feira– e fosse direto nela, visto que ela seria a encarregada de acompanhar o meu caso.

    Na segunda, pela manhã, fui à delegacia com meus amigos e lá recebi algumas instruções do que deveria fazer e ouvi mais algumas coisas, como: “as provas precisam ainda ser um pouco mais amadurecidas” ou “procure saber de mais alguma pista”. Na segunda-feira, quando fui à delegacia dizer que havia sofrido homofobia, um dos policiais me disse que estava há quase 30 anos na policia e isso nunca tinha acontecido por aqui, e, no outro dia, na televisão, vi que já era, após a mídia ter procurado um contato com eles; isso no mínimo é bastante confuso, entre outras coisas. Vale ressaltar ainda aqui que meu Boletim de Ocorrência diz que o caso se refere à TORTURA e ROUBO. Sobre a questão do IML: errei em demorar um pouco para ir ao IML, entretanto, tem muita coisa que deve ser levada em consideração. Se colocar no lugar do outro é muito difícil.
    Quando fui realizar o exame, a própria médica me disse que muito provavelmente não iria haver nenhum tipo de resultado, porque houve uma demora em se fazer o exame; mas o resultado do hospital sairá daqui a 45 dias.

    Uma coisa tem que ser deixada bem claro: eu não estou com o rosto arrebentado ou com uma perna quebrada, mas a violência aconteceu. O que deve acontecer para que não seja exagero? A morte? Exagero é a tentativa de tirar a vítima do seu lugar de vítima. Exagero é a tentativa de silenciar uma luta. Exagero é uma delegacia estar fechada em um final de semana. Exagero é uma pessoa ser violentada, chegar em casa com a sua roupa rasgada e descalço. Exagero é ver o órgão responsável por ajudar você ir pra mídia e dizer que sua dor é um exagero. Exagero é os espancamentos e as mortes continuarem e a polícia continuar vendo como um exagero. Qual tem que ser o tamanho da dor para que ela possa ser medida? A dor pode ser medida? Exagero é sentir dor. Exagero.. Exagero é o número de homossexuais mortos todos os dias no Brasil.”

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