Brasil registra primeiro caso de câncer de mama raro ligado ao implante de silicone

O Brasil registrou o primeiro caso de câncer de mama associado ao silicone, conhecido como carcinoma espinocelular associado ao implante mamário de silicone. O caso foi descrito em um estudo coordenado pelo mastologista Idam de Oliveira Junior, sócio titular da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) e coordenador do Departamento de Mastologia e Reconstrução Mamária do Hospital de Amor, em Barretos (SP), publicado na revista científica Annals of Surgical Oncology (ASO).

Trata-se de uma jovem que tinha implante de silicone, de longo prazo, com finalidade estética, com queixa de aumento acentuado no volume de uma das mamas associado a dor. Foi abordada inicialmente com troca de prótese e retirada da cápsula que a revestia, devido à presença de seroma (líquido ao redor da prótese) tardio.

A cápsula apresentava sinais incomuns e foi encaminhada para a biópsia, que evidenciou a malignidade. Após esta etapa, a jovem foi submetida à retirada da prótese e mastectomia.

“Mas devido à lesão avançada, houve recidiva de forma precoce e agressiva”, lembra Oliveira Junior. A partir do diagnóstico, a paciente brasileira teve uma sobrevida de 10 meses.

Com base na literatura científica sobre outros casos descritos, o especialista da SBM e sua equipe buscaram informações para entender o comportamento da doença. “A partir de estudos e de conceitos do estadiamento do linfoma associado à prótese de silicone, desenvolvemos um estadiamento para o carcinoma espinocelular, também com atenção ao implante mamário, correlacionando a sobrevida das pacientes”, diz.

Em casos avançados, a doença pode se espalhar para órgãos distantes como pulmões, fígado e mediastino, através da corrente sanguínea ou linfática. A disseminação local e regional é comum. O estadiamento avalia o grau de disseminação do câncer a partir de regras internacionalmente estabelecidas. O estadio de um tumor reflete não apenas a taxa de crescimento e a extensão da doença, mas também o tipo e a relação com a sobrevida.

Embora considere a raridade da ocorrência de carcinoma espinocelular associado a implante mamário, o mastologista reforça entre os especialistas a necessidade de exames completos e precisos, especialmente diante de seroma de início tardio. “Como demonstramos no estudo publicado na ASO, estamos diante de uma doença de comportamento agressivo. O diagnóstico precoce permite um tratamento mais eficiente com maior sobrevida para a paciente”, destaca.

Ele ressalta que o temor por alguma patologia relacionada aos implantes tem levado um grupo expressivo de mulheres a solicitar a retirada das próteses. “Não há espaço para que o medo influencie na decisão da paciente. Tudo precisa ser amplamente discutido e avaliado com respaldo científico”, conclui Idam Oliveira Junior.

Os procedimentos com implantes mamários de silicone vêm sendo amplamente realizados desde a década de 1960. De acordo com o mastologista, vêm crescendo nos últimos anos as evidências da associação entre implantes de silicone e efeitos imunológicos e inflamatórios que poderiam desencadear neoplasias como o linfoma anaplásico de grandes células associado a implantes mamários (BIA-ALCL, na sigla em inglês) e a síndrome autoinflamatória induzida por adjuvantes (ASIA, na sigla em inglês).

De acordo com a literatura científica, as ocorrências ao redor do mundo são poucas, com pouco mais de 20 pacientes diagnosticadas. O carcinoma espinocelular associado ao implante mamário de silicone (BIA-SCC, na sigla em inglês) foi descrito pela primeira vez na literatura médica em 1992.

“Devido ao número limitado de ocorrências, os fatores de risco para o desenvolvimento deste tipo de tumor altamente agressivo, com prognóstico desfavorável, são desconhecidos. (Foto: Fleek).

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