Lula pede respeito a Trump : ‘Se ele cobrar 50% da gente, a gente vai cobrar 50% dele’

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta quinta-feira (10), em entrevista à Record, que criará um comitê com empresários para repensar a política comercial com os Estados Unidos e reforçou que medidas de retaliação ao tarifaço de Donald Trump já estão em estudo.

A principal delas, segundo ele, é o uso da Lei da Reciprocidade, aprovada pelo Congresso, que permite ao Brasil adotar sanções equivalentes às impostas por outros países.

— Se ele cobrar 50% da gente, a gente vai cobrar 50% dele. Temos vários caminhos. Podemos recorrer à OMC, propor investigações internacionais, cobrar explicações. Mas o principal é mostrar que o Brasil se respeita.

O presidente criticou a forma e o conteúdo do anúncio feito por Trump, que prometeu aplicar uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, caso volte à presidência dos Estados Unidos.

Para Lula, além de desrespeitosa, a medida revela desconhecimento sobre a relação histórica entre os dois países e será respondida com firmeza pelo Brasil. Em entrevista à Record, o petista disse que não é aceitável a diplomacia ser substituída por vídeos em redes sociais.

— A primeira coisa que o povo brasileiro precisa saber é que quem tem que respeitar o Brasil e gostar do Brasil são os brasileiros. E, ao mesmo tempo, exigir que os outros nos respeitem. Mas eu achei aquela carta do pretendente, porque ele não é presidente, é pretendente, absurda. Não é costume ficar mandando recado por rede social para um chefe de Estado — afirmou.

Durante a entrevista, o presidente brasileiro acusou ainda o ex-presidente americano de propagar dados falsos e ignorar os laços históricos com o Brasil. Disse ainda que, ao contrário do que Trump afirmou em sua carta, os EUA não enfrentam prejuízo comercial na balança bilateral.

— Ele alega que os Estados Unidos têm déficit com o Brasil, mas isso não é verdade. Em 2023, exportamos 40 bilhões de dólares e importamos 47 bilhões. Tivemos um déficit de 7 bilhões. E se somarmos os últimos 15 anos, o Brasil acumulou um déficit de 410 bilhões com os americanos. Será que ninguém do Tesouro explicou isso pra ele antes de escrever aquela carta absurda? — questionou.

Lula também saiu em defesa do Judiciário brasileiro, citado de forma indireta por Trump ao mencionar decisões que, segundo ele, atentariam contra a liberdade de expressão de empresas americanas. O presidente rebateu, dizendo que o Brasil tem instituições sólidas, que devem ser respeitadas por qualquer país estrangeiro.

— Eles têm que respeitar o nosso Judiciário como eu respeito o deles. Se o que Trump fez no Capitólio tivesse acontecido aqui, ele estaria sendo processado como o Bolsonaro e poderia até estar preso. Aqui, o Judiciário é autônomo, sobretudo o STF.

As declarações sobre as big techs também foram alvo de Lula, que rejeitou a tese de que o Brasil busca censurar plataformas digitais. Segundo o presidente, a legislação brasileira é clara e deve ser respeitada por todas as empresas que atuam no país, inclusive as americanas.

— Quem estabelece as regras no Brasil é o Congresso Nacional e o Judiciário. Nenhuma empresa estrangeira pode vir aqui e ignorar nossas leis. Trump precisa entender isso. Aqui não é território sem lei.

Lula ainda atribuiu parte da ofensiva americana à influência de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro. Segundo ele, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) teria atuado diretamente para convencer Trump a adotar medidas contra o Brasil, num gesto de retaliação ao avanço das investigações judiciais que envolvem seu pai.

— O ex-presidente deveria assumir sua responsabilidade. Foi o filho dele quem foi lá influenciar Trump, que agora tenta interferir em um processo que está na Suprema Corte brasileira. E aqui, decisão judicial se cumpre.

Em tom crítico, Lula classificou o episódio como uma tentativa de uso eleitoral da relação bilateral. Disse que é “inadmissível” que interesses externos se sobreponham à soberania brasileira e reforçou que o país saberá responder com firmeza e equilíbrio. Ele encerrou a entrevista anunciando que as tratativas diplomáticas já estão em curso e que eventuais sanções ou ações comerciais dependerão da condução do Itamaraty. (Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil). 

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