Flamengo de Arcoverde (PE) paralisará suas atividades

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Há dois anos, no Sertão de Pernambuco, o Flamengo de Arcoverde anunciava nova fase na sua história ao se tornar o primeiro clube do estado a virar SAF. Investimentos na casa de milhões foram feitos para oferecer estrutura aos atletas, como a construção de um hotel no centro da cidade. Outros projetos, como a compra de um terreno para construção de um CT, estavam em curso.

Tudo isso, agora, fica em segundo plano, porque a partir de 2025 o Flamengo de Arcoverde paralisará suas atividades. Em carta, o presidente e sócio majoritário da SAF do Tigre, Gabriel Castilho, anunciou a medida.

O centro da questão é político – entre o clube e a Prefeitura da cidade de Arcoverde, acusada por Castilho de falta de apoio ao Flamengo. A razão não é algum eventual recurso que poderia ser injetado no clube, mas sim a ausência de diálogo e cooperação, garante o dirigente.

O estádio municipal Áureo Bradley é um exemplo. Segundo o presidente, houve assinatura de um convênio para que a atual gestão da prefeitura ficasse responsável pela manutenção do campo de treino. Um acordo, embora assinado em papel, que nunca existiu, diz o mandatário.

“Gastamos quase R$ 200 mil para cuidar do estádio. Algumas questões estruturais seriam da nossa conta e em contrapartida eles dariam a manutenção do estádio. Ela nunca aconteceu. E aí começamos um grande embate. Nunca foi sobre pedir dinheiro e sim apoios básicos”, conta Gabriel.

Sem acerto, o Flamengo de Arcoverde não jogou na própria cidade durante a Série A1 do Campeonato Pernambucano deste ano: mandou seus jogos em Belo Jardim, município vizinho a 70 quilômetros, e em Caruaru, a 127 quilômetros, no Agreste pernambucano.

– A gente colocou como meta do nosso comitê de investidores (além de Gabriel Castilho, dono de 60% das ações do clube, compõem o grupo outros cinco empresários) que vamos lutar até onde for possível.

“Não é só sobre dinheiro”, reforça o presidente do Fla, mas o próprio discurso deixa transparecer o lamento pelos recursos investidos nos últimos três anos.

Castilho revela, ao todo, R$ 5 milhões desembolsados neste período – somando construção de hotel no centro da cidade que aloja 74 atletas, compra de 10 hectares para o CT, manutenção de funcionários e demais membros do estafe.

“Paramos no meio do caminho, porque a gente pediu apoio e nunca fomos assistidos. E nosso dinheiro não é capim. A gente sente que tem uma corja política. Se você não vê futuro mais no local, você não vai ficar. A gente vai congelar nossa operação. Só comparar com Jaboatão, que pensa na causa, Afogados, Sertânia. Sem ter boa vontade, o planejamento sofre”, dispara.

O Flamengo de Arcoverde pode sair de… Arcoverde. Em briga política, o comitê da SAF do Tigre pensa em se transferir para outra cidade do interior de Pernambuco – sem citar nomes – e garante ao menos três municípios interessados.

Alguns, segundo o presidente Gabriel Castilho, se dispuseram até a “pagar” para o time jogar.

– A SAF não vai deixar de existir, o CNPJ. A gente está congelando e depois a gente vai atrás ver o que pode acontecer. Muita gente já nos deu apoio, inclusive querendo pagar para irmos para outra cidade – reitera o cartola.

Procurada pela reportagem, a administração da Prefeitura de Arcoverde, em nome do prefeito Wellington Maciel, deu a sua versão dos fatos.

O gestor disse que nunca se furtou ao diálogo com o Flamengo, custeando reformas pedidas no Áureo Bradley – cujo gramado, admite, está em mau estado -, e fez o possível para manter a escuta com os representantes do clube. Até certo ponto.

“Tudo se consegue com conversa, não com promessa. Como, por exemplo, do CT que nunca saiu do papel. E a pessoa, desqualificada, para trabalhar, fica difícil, principalmente quando um lado só cobra e exige. Nunca deixei de receber eles. Arrumamos espaço, reformamos o campo, eles tiveram participação pequena e depois começaram a criar situações, cheios de direitos”, retruca.

– E município tem um limite que pode ajudar. O Flamengo é uma SAF, empresa privada, tem independência. E, pela arrogância, acabou não tendo mais diálogo com eles (gestores do Fla). O Flamengo não jogou no Áureo Bradley por decisão do clube, porque o campo não estava o ideal, mas conseguimos as liberações.

Em 2024, o Tigre do Sertão jogou de última hora a elite do Campeonato Pernambucano como substituto do Salgueiro – que anunciou desistência -, mas terminou eliminado na primeira fase do Estadual na lanterna e rebaixado à Série A2.

Na prática, o Flamengo entraria em campo no ano que vem, tentando novamente uma vaga na Série A1, mas, por decisão dos gestores, o clube anunciou essa pausa, pelo menos até segunda ordem.

O Flamengo de Arcoverde tem suas raízes na década de 1950 e foi fundado com o nome de Vingador Futebol Clube. Posteriormente, ainda em fase amadora, a equipe foi renomeada para América Futebol Clube, mas enfrentava dificuldades para obter bons resultados nos campeonatos locais, além de já existir, em Pernambuco, um clube com esse nome.

Em meio a essa fase de insucessos, um grupo de amigos, que torciam para o Flamengo do Rio e para o Sport decidiu criar o Flamengo Sport Clube de Arcoverde. Somente a partir dos anos 1990, o clube se profissionalizou e alcançou maior destaque no cenário estadual do futebol profissional, disputando as principais divisões do futebol pernambucano. (Por Camila Sousa/Foto: Rafael Vieira / FPF-PE).