O percentual de crianças menores de 14 anos que estão abaixo da linha de pobreza chegou a 46,2% no Brasil no ano passado, o maior percentual da série, iniciada em 2012. São 20,3 milhões de meninos e meninas que vivem sem rendimento suficiente para ter condições mínimas de bem-estar, segundo dados da Síntese de Indicadores Sociais do IBGE divulgados nesta sexta-feira (2).
A proporção é muito maior que na população em geral, em que 29,4% estão na mesma situação. Ou 62,5 milhões de brasileiros.
Os critérios considerados para linha de pobreza são os do Banco Mundial, isto é, renda nominal per capita menor que US$ 5,50 por dia ou R$ 486 por mês.
Ao todo, 17,8 milhões de brasileiros estão na extrema pobreza, com ganho per capita inferior a US$ 1,90 diário, ou R$ 168 mensais. São 8,4% da população nesta situação.
De novo, as crianças são as mais afetadas: 13,4% delas são extremamente pobres.
“A redução dos valores e abrangência e o aumento dos critérios para concessão do Auxílio Emergencial, em 2021, provavelmente tiveram impactos sobre o aumento da extrema pobreza e da pobreza neste último ano”, diz o IBGE.
Na ocupação de Vila Canaã, em São Cristóvão, na Zona Norte do Rio, os número do IBGE ganham contorno de realidade. Entre as 135 famílias que lá vivem está a de Daniele Rodrigues, de 39 anos. Ela vive com os cinco filhos em um cômodo pequeno e dividido apenas por um guarda-roupas, usado para separar o espaço onde está a cama de casal, em que todos dormem, e a sala.
Em 2020, no auge da pandemia, ela sofreu um AVC e ficou com o lado esquerdo do corpo paralisado, motivo pelo qual, afirmou, não consegue trabalhar. Agora, depende do Auxílio Brasil, de R$ 600, para sustentar o lar.
“Tenho cinco filhos. Eles têm 3, 7, 9, 12 e 19 anos. Já faz cinco anos que a gente mora nessa ocupação. Antes, morávamos em outra, mas fomos despejados.” disse Daniele. “Hoje, com R$ 600, você compra um arroz, feijão ou uma mistura. Então, passamos dificuldades.”
O Nordeste é a região que concentra mais brasileiros vulneráveis: 53,2% dos que vivem com menos de US$ 1,90 por dia estão lá. Os estados nordestinos também abrigam 44,8% dos pobres do país.
O Sudeste, que abriga as cidades mais ricas da nação, também convive com pessoas com rendimento insuficiente. É a segunda região que mais concentra pessoas na extrema pobreza no país, com 25,5% delas. Quando se olha os que estão abaixo da linha de pobreza, o percentual na região (29,5%) está em linha com o número nacional.