Outubro deve ser o mês mais violento de 2015 em Pernambuco até então. Uma projeção inicial da Secretaria de Defesa Social (SDS) mostra que ocorreram 377 assassinatos no Estado durante o período de 31 dias, um aumento de 32,2% em relação às 285 mortes violentas registradas no mesmo mês em 2014. Os dados serão consolidados pela secretaria nos próximos quinze dias e devem mostrar apenas uma pequena diferença, para mais ou para menos.
O próprio governo admite que outubro deve deixar uma marca negativa nas já combalidas estatísticas do Pacto pela Vida (PPV) em 2015. Tomando como base a projeção da SDS para o último mês, seriam ao todo 3.174 assassinatos no Estado desde o início do ano. Número que já é maior que os 3.102 homicídios registrados em todo ano de 2013, o de melhor desempenho desde que o PPV foi implementado, em 2007.
A meta estabelecida pelo governo do Estado para os próximos dois meses é de 558 homicídios (282 em novembro e 276 em dezembro). O valor é calculado para ser sempre menor que o mesmo período do ano anterior. Levando em conta a projeção para outubro deste ano e admitindo que as metas serão no mínimo igualadas, Pernambuco fechará 2015 com cerca de 3.700 assassinatos, um patamar que fica entre os anos de 2009 (4.018 homicídios) e 2010 (3.509). Agora o detalhe perturbador: apenas em junho deste ano a meta estipulada pela SDS foi batida. Em todos os outros nove meses, o número real de assassinatos superou a projeção.
Dados relativos à última reunião do Pacto pela Vida, realizada no dia 28 de outubro, mostram que Caruaru continua sendo a cidade mais violenta do Estado, com 20 homicídios registrados entre os dias 26 de setembro e 26 de outubro. Em segundo lugar aparece Petrolina, no Sertão, com 13 ocorrências. Em terceiro, o município de Escada, na Zona da Mata Sul, que com apenas 63 mil habitantes, registrou nove mortes violentas no último mês. Os bairros de Piedade e Muribeca, em Jaboatão dos Guararapes, foram os mais violentos do Grande Recife no mesmo período, com
O ano se aproxima do fim sem que o governo tenha conseguido imprimir uma nova dinâmica ao Pacto. Tentativas não faltaram. Já em janeiro, o governador Paulo Câmara autorizou a transferência de 177 policiais militares para o 6º Batalhão (Jaboatão e Moreno), cuja área respondeu por 10% dos homicídios no Estado em 2014. Em maio, numa cerimônia realizada no Palácio do Campo das Princesas, Câmara autorizou a realização de concurso público para 1,5 mil novos soldados da PM, 500 agentes e 50 escrivães da Polícia Civil, além de 316 vagas para a Polícia Científica. Em setembro, 1,1 mil novos PMs foram colocados nas ruas para estágio de quinze dias. E no início de outubro, outros 350 policiais foram incorporados ao 6º batalhão.
Mas se houve ação, por que não aconteceu a reação? “A integração entre as polícias se acabou. Além disso, a postura do ex-governador Eduardo Campos era mais incisiva no sentido de cobrar resultados”, sentencia, em reserva, um oficial da Polícia Militar. “Nos primeiros anos do Pacto, comandantes de batalhões e delegados chegavam a almoçar juntos para discutir estratégias em suas respectivas áreas. Isso hoje não existe mais”, comenta um delegado, também sob anonimato.
Entre as medidas que o governo do Estado afirma ter tomado para aprimorar o Pacto pela Vida ao longo de 2015 estão a redistribuição de policiais militares para áreas onde há maior índice de homicídios, como o município de Jaboatão dos Guararapes e as regiões do Agreste e Zona da Mata. Através de nota, a Secretaria de Defesa Social (SDS) informa que promoveu mudanças nos comandos das polícias Civil, Militar e Científica.
“Foi realizada a maior promoção da história da PM e Corpo de Bombeiros, onde mais de cinco mil homens subiram de graduação e posto entre os meses de março e junho”, diz a nota. A SDS também se refere à criação do 25º Batalhão da PM, que funcionará em Jaboatão dos Guararapes e do Batalhão de Polícia Especializada do Interior com sedes em Palmares e Toritama. “Além da criação da Companhia Independente de Goiana na Mata Norte”.
A secretaria também cita a autorização do governador para a realização de um concurso público com 2.366 vagas para as polícias sendo 1.500 vagas para soldados da Polícia Militar, na Polícia Civil (100 vags para delegado, 500 vagas de agentes e 50 para escrivães) e na Polícia Científica (316 cargos diversos). “Também foi concluída a formação de 1.117 novos soldados da PMPE, que foram distribuídos nos locais de maior necessidade operacional”, diz o texto.
A SDS afirma que reposicionou 100 câmeras do seu sistema de videomonitoramento para melhor utilização em três regiões do Estado: no Recife, em Caruaru (Agreste) e em Petrolina, no Sertão. “As câmeras foram deslocadas de postes de sete metros para coberturas de edifícios. Com isso, o videomonitoramento no Estado foi potencializado de um raio de 400 metros por câmera para até três quilômetros”.
Para o presidente do Sindicato dos Policiais Civis (Sinpol), Áureo Cisneiros, o atual resultado do Pacto pela Vida poderia ter sido evitado. “Em março entregamos um dossiê ao governo explicando a situação precária de várias delegacias. Sem investimentos na polícia que investiga os crimes, a impunidade aumenta. E, como se sabe, a falta de punição é um estímulo para a prática do crime”, comenta. (JC).