A transformação de esgoto em energia começa a tornar-se realidade em Pernambuco. A Companhia Energética de Pernambuco (Celpe), empresa do Grupo Neoenergia, coloca em operação, nos próximos meses, o projeto pioneiro no Estado que vai gerar energia elétrica renovável, a partir do sistema de esgotamento sanitário público e privado.
Após dois anos de estudos, a iniciativa entra na fase final e será implantada na Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) da Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa), em Caruaru, no Agreste, e, no Instituto Camará, em Camaragibe, no Grande Recife.
A previsão é que as duas plantas de geração alternativa de energia, com potências somadas estimada em 210 kW, comecem a operar no segundo semestre.
A nova tecnologia utilizará o gás produzido pelos resíduos sólidos e efluentes líquidos como combustível para a geração de energia elétrica. Inicialmente, a energia produzida pelo biogás será utilizada para abastecer a própria unidade de tratamento.
A estação foi selecionada por receber uma quantidade de resíduos suficiente para gerar e consumir a energia prevista nas especificações do projeto.
Caso haja excedente, a energia será injetada na rede da Celpe. O percentual não consumido e destinado à rede da concessionária será revertido em crédito para o cliente, como prevê a Resolução Normativa Nº 482/2012, que trata sobre geração distribuída.
No total, estão sendo investidos mais de R$ 4,6 milhões na aquisição de equipamentos, capacitação profissional, desenvolvimento da tecnologia, instalação e acompanhamento após implantação.
O projeto, que faz parte do Programa de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico do Setor Elétrico da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) conta com a parceria da Compesa e do Governo do Estado, e está sendo executado pela Universidade de Pernambuco (UPE), Centro de Gestão de Tecnologia e Inovação (CTGI) e as empresas B&G Pesquisa e Desenvolvimento em Sistemas Elétricos Ltda e Sustente Energias Sustentáveis Ltda.
Durante um ano, a estação de tratamento de Caruaru será monitorada pela equipe de pesquisadores responsável pelo projeto. O projeto visa avaliar os requisitos técnicos e a viabilidade econômica para inserção do biogás oriundo de resíduos/efluentes líquidos para a geração de energia elétrica em estações tratamento de esgoto.
No mesmo período, a iniciativa também será aplicada no sistema de esgoto do Instituto Camará, entidade privada criada para realizar a gestão sustentável de toda a Reserva Camará, complexo multiuso situado no município de Camaragibe. Na instalação particular será instalado um microgerador de energia, com potência estimada em 10 kW, que funcionará a partir dos resíduos gerados na localidade.
A finalidade é avaliar o desempenho da microgeração em outros ambientes, o que vai possibilitar a obtenção de dados comparativos.
“Vamos estudar uma tecnologia que possa ser aplicada em várias situações. O modelo servirá de base para aplicação em diferentes segmentos, seja comercial, industrial ou residencial”, comenta o gestor de Meio Ambiente da Celpe, Thiago Caíres.
Entre os benefícios, o projeto desenvolvido pela Celpe traz ganhos relevantes para a preservação do meio ambiente. Entre eles, permite o reaproveitamento dos resíduos e redução dos gases emitidos na estação de tratamento de esgoto.
O modelo de geração de energia renovável também contribuirá para o tratamento de esgoto em comunidades isoladas ou naquelas que ainda não dispõe deste serviço no País.
Por estimular a descentralização da produção energética, o projeto se enquadra na modalidade de geração distribuída de energia elétrica.
Nos casos de clientes que aderem ao sistema de micro ou minigeração não há necessidade de construção de linhas de transmissão, uma vez que a energia é consumida no mesmo local em que é produzida, reduzindo consideravelmente os níveis de perdas técnicas inerentes ao transporte da energia elétrica. (Blog do Jamildo).