A situação de isolamento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que na última sexta-feira (17) anunciou seu rompimento pessoal com o governo Dilma, pode se complicar ainda mais se vierem à tona detalhes de sua atuação nas eleições do ano passado. Acusado de pedir US$ 5 milhões de propina na operação Lava Jato para ele, e outros US$ 5 milhões para aliados, Cunha teria financiado parte dos deputados eleitos. A articulação para disputar e assumir a presidência da Casa teria se iniciado logo após as eleições de outubro, com base em instrumentos da política tradicional, como acredita o deputado Chico Alencar (Psol-RJ).
“Para a presidência da Câmara ele operou também dessa maneira, conversando com deputados recém-eleitos, mais de 40% da nova Câmara, que assumiram neste ano, e também fazendo vínculo com deputados antigos – há quem diga que ele chegou a financiar campanhas, em 2014, de mais de 100 candidatos eleitos, portanto, mais de 100 deputados”, afirma Alencar .
O deputado Silvio Costa (PSC-PE), vice-líder do governo na Câmara, reitera as suspeitas. “Não posso provar o que vou dizer agora, mas há quem diga que já na campanha de deputado em 2014 ele teria ajudado vários parlamentares. Eu estou fazendo aqui uma ilação, coisas que eu escuto, eu não posso provar isso, mas é bochincho da Casa.
Frente ao escândalo, Alencar diz que “a saída é o afastamento dele da presidência da Casa. Ninguém está pedindo que ele seja cassado ou renuncie ao mandato, mas a função de presidente da Câmara é incompatível como esse tipo de investigação”. Ele lembra que “por muito menos” o Severino Cavalcanti (PP-PE) saiu. “Mas é claro que você não tem nenhum elemento regimental no momento para que essa saída seja imposta. É preciso ter soma de forças, por isso, estamos cobrando que cada partido se manifeste.
Neste momento, boa parte dos eleitores de Eduardo Cunha na Câmara Federal está com as barbas de molho, cautelosos em sair em defesa do peemedebista, avalia Alencar. Ele de fato está perdendo essa sustentação que ostentava como inabalável, poderosíssima. Sem dúvida, aquela empáfia, aquela arrogância, vai ter de diminuir”, diz Alencar.