Surdos e ouvintes discutem formação profissional e atendimento às pessoas surdas no 1º Congresso Brasileiro de Saúde em Libra

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    Sinais e expressões da Língua Brasileira de Sinais (Libras) predominam na comunicação entre os participantes do 1º Congresso Brasileiro de Saúde em Libras (CBSL), que acontece no Complexo Multieventos da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), Campus Juazeiro (BA). O evento reúne cerca de 600 participantes surdos e ouvintes das mais diversas regiões do país e de diferentes campos de atuação, interessados na oportunidade de debater a formação de estudantes e profissionais das áreas da saúde que atuam no atendimento às pessoas surdas. Com uma intensa programação, o Congresso iniciou nessa quinta-feira (22) e segue até hoje (24).

    As atividades começaram com a realização de minicursos, rodas de diálogo e uma apresentação do projeto da Univasf Sentindo na Pele. A conferência de abertura sobre a temática “Saúde e Educação para a Criança Surda: intercessões a partir da escola bilíngue” foi proferida pela professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Karin Strobel.

    Durante a manhã desta sexta-feira (23), houve rodas de diálogo e apresentação de trabalhos orais/Libras com discussão sobre as temáticas. Em seguida, aconteceu a conferência “Saúde em Libras: rompendo com as barreiras de comunicação”, ministrada pela atriz, escritora, professora de línguas e intérprete brasileira, fluente em 32 línguas de sinais, Sueli Ramalho. “É preciso que as pessoas entendam como romper com a barreira da comunicação, que é a realidade diária dos surdos. É importante mostrar às pessoas também que elas podem solucionar e contribuir com a inclusão”, ressaltou Sueli.

    Ainda pela manhã, ocorreu a oficina de combate a incêndio, ministrada pelo 1º sargento Simões do 9ª Grupamento do Corpo de Bombeiros de Juazeiro. “É um momento ímpar. Precisamos estar atentos às demandas da comunidade surda. É preciso dialogar com eles. Antes de estarmos aqui, tivemos uma capacitação com o Núcleo de Práticas Sociais Inclusivas (NPSI) da Univasf”, contou.

    Uma das congressistas presentes no evento é a ouvinte Gabriela Machado, representando a Escola Estadual Wilson Lins (CAS), instituição de capacitação para alunos surdos de Salvador (BA). “Para quem é ouvinte o contato com o surdo é muito bom. Você perde o medo e adquire experiências, conhecendo pessoas novas, participando dos diálogos com a comunidade surda. Aqui, alguns sinais são diferentes dos de Salvador. A importância para o surdo é que ele vai aprender a se comunicar, até mesmo com intérprete. Hoje em dia, é importante ter um intérprete nas escolas, universidades, hospitais e em todos os lugares”, disse.

    Um dos pontos que chamou a atenção dos congressistas foi a presença da menina Fiorella Souto Rosa, de apenas 4 anos, que acompanha o pai, o professor de Libras Fabiano Souto, que também é surdo. A menina, diagnosticada com surdez aos quatro meses, hoje é conhecida nas redes sociais pelos vídeos do canal O Diário da Fiorella. “Coloquei os vídeos no YouTube com o intuito de mostrar que as crianças podem aprender Libras. As pessoas acham que é preciso falar, para depois aprender Libras. O nosso intuito é incentivar as famílias a criarem seus filhos aprendendo Libras”, explicou o pai. Fabiano e Fiorela contou sua experiência familiar na conferência “Família Surda”.

    Na avaliação da coordenadora do Núcleo de Práticas Socias Inclusivas (NPSI) da Univasf, professora Karla Daniele Maciel Luz, o congresso está surpreendendo. “A Univasf se abre para aprender com a comunidade surda. O balanço do congresso é muito positivo, com muita gente de fora participando. Priorizamos também a participação das pessoas da região do Vale do São Francisco. A programação é composta por 90% de pessoas surdas. Elas vão falar sobre suas experiências. A maioria dos participantes está vendo um surdo falar pela primeira vez sobre suas experiências profissionais e isso é muito impactante. Isso prende a plateia, trás o diferencial do evento”, disse.

    Ainda durante a tarde de ontem, houve também atividades inclusivas de teatro, com uma simulação de atendimentos a pessoa surda mediado por participantes surdos. Neste sábado (24), o evento prossegue a partir das 8h, com oficinas e conferências e um bate-papo no final da tarde sobre o tema “Saúde em Libras – Direito da Comunidade Surda”, com a participação de Karin Strobel, Sueli Ramalho, do professor de Libras Bruno Ramos e da professora Maria N. Oliveira. A programação completa do I Congresso Brasileiro de Saúde em Libras está disponível no site do evento.

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