O governo Bolsonaro identificou cerca de 6.000 erros em notas do Enem 2019. Além da falha inicial ocorrida na gráfica, também foram encontradas notas erradas provocadas por outras falhas, como na aplicação.
Problemas referentes ao uso de um cartão de resposta reserva, no momento da aplicação da prova, por exemplo, foram identificados durante a força-tarefa realizada desde sábado (18) pelo governo. A quantidade de estudantes afetados por esses problemas de aplicação é pequena, de cerca de 20 casos –eles também tiveram notas alteradas.
Apesar do número reduzido, esses erros teriam sido identificados antes da divulgação caso o processo de realização do exame tivesse sido menos atribulado, de acordo com técnicos do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) ouvidos pela reportagem.
O ministro da Educação, Abraham Weintraub, divulgou no sábado (18) que participantes receberam notas erradas. Na véspera, Weintraub havia comemorado o sucesso na realização do Enem 2019.
Segundo o governo, o erro partiu da gráfica Valid, que passou a imprimir as provas no ano passado. O problema havia atingido inicialmente provas do segundo, mas no domingo veio a confirmação de que falhas também ocorreram no primeiro dia.
Weintraub disse em entrevista nesta segunda-feira (21), à Rádio Gaúcha, que o número de afetados chegaria a 6.000 participantes (cerca de 0,1% do total). Servidores do Inep confirmaram à reportagem essa estimativa, que deve ser anunciada em entrevista convocada para o início da noite desta segunda.
Weintraub ressaltou que o erro teve impacto considerado baixo. O governo manteve o cronograma do Sisu (Sistema de Seleção Unificada), cujas inscrições se abrem nesta terça-feira (21).
Esse volume de erros leva em conta a análise do Inep, sobretudo a partir das queixas encaminhadas ao governo por candidatos até as 10h desta segunda. Esse prazo final para envio de reclamações foi estipulado na noite de domingo pelo órgão.
O Inep recebeu 75 mil mensagens com reclamações de erros até esse horário. Há relatos nas redes sociais de participantes que não tiveram tempo para pedir esclarecimento sobre sua nota.
No sábado, o presidente do Inep, Alexandre Lopes, disse que o impacto ainda era incerto, e poderia alcançar até 1% dos candidatos, o que daria cerca de 39 mil candidatos.
Segundo o governo, foram constatados erros na identificação dos candidatos e da respectiva cor de sua prova. A falha ocorreu na gráfica: os arquivos com essas informações teriam chegado ao Inep com divergências, segundo o instituto. O candidato fez a prova de uma cor, mas a nota foi corrigida como se fosse de outra.
O problema teria ocorrido na gráfica por causa de falhas pontuais nas máquinas de impressão. Teriam sido ocasiões em que os equipamentos engasgaram, provando pequenas interrupções no trabalho. O problema é que os protocolos de verificação não identificaram as falhas.
A gráfica que imprimia o Enem desde 2009, a RR Donnelley, faliu em março do ano passado. O governo preferiu contratar a segunda colocada na última licitação ao invés de fazer novo certame.
A gráfica Valid foi então contratada para o serviço mesmo sem ter experiência em serviços parecidos com o Enem. Funcionários do Inep relataram ao longo do ano riscos de problemas com a gráfica, que foram minimizados pelo governo.
Como a inexperiência da gráfica, o processo para impressão foi todo muito corrido, de acordo com técnicos ouvidos pela reportagem. A gráfica não tinha infraestrutura adequada para armazenar e manusear os malotes que seriam despachados, por exemplo.
A Valid foi contratada para imprimir o Enem por R$ 151,7 milhões. A mesma empresa foi contratada pelo governo Bolsonaro em janeiro de 2019 para impressão de outras provas do governo, como o Saeb (avaliação federal da educação básica), aplicado em novembro passado.
O TCU (Tribunal de Contas da União) apura supostas irregularidades nessa última contratação. A secretaria de Controle Externo de Aquisições Logísticas do TCU apontou irregularidades em relatório de maio de 2019.
O tribunal cita que, na licitação do Enem de 2016, a Valid e a RR Donnelley teria tido comportamento suspeito nos lances por menor preço. Já no pregão de 2019, vencido pela Valid, a RR Donnelley “não apresentou postura competitiva”.
Procurada, a Valid informou por meio de sua assessoria de imprensa que não iria se manifestar.
Também foram minimizados por Weintraub turbulências que atingiram o instituto e o MEC. Lopes, por exemplo, já é o terceiro a presidir o Inep sob o comando de Bolsonaro. (AB).