Em seu último discurso antes de ser preso num processo de exceção, que atendeu a interesses internacionais e redundou numa ordem de prisão ilegal, expedida por Sergio Moro antes até do trânsito em julgado na segunda instância, o ex-presidente Luiz Inácio Lula fez um discurso histórico, em São Bernardo do Campo (SP). “Eu não os perdoo por ter sido tratado como ladrão”, disse Lula. “Eu não estou acima da justiça. Mas eu acredito numa justiça justa, numa justiça justa que leva em consideração as provas do processo.
O que eu não posso admitir é um procurador que fez um power-point e que foi para a televisão para dizer que o PT é uma organização criminosa. Eu quero que ele guarde a convicção dele para os comparsas deles, e não para mim”, afirmou Lula, numa referência a Deltan Dallagnol.
Lula também protestou contra as campanhas de mídia de que foi vítima. “O que eles não se dão conta é de que, quanto mais me atacam, mais cresce a minha relação com o povo brasileiro”, disse o ex-presidente com a voz rouca. “Os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas, mas jamais podem deter a chegada da primavera”, disse Lula.
O ex-presidente também se referiu a Sergio Moro. “Eu gostaria de fazer um debate com ele e eu o desafio a mostrar alguma prova”, afirmou. “Eu sou um construtor de sonhos. Sonhei que era possível um metalúrgico, sem diploma, cuidar mais da educação do que os diplomados e concursados cuidaram da educação. Sonhei que era possível pegar os estudantes da periferia e colocá-los nas melhores universidades do País.
Daqui a pouco vamos ter juízes e procuradores nascidos na favela, nascidos na periferia. Esse crime eu cometi. Esse crime eles não querem que eu cometa mais. Se esse crime que eu cometi, eu vou continuar sendo criminoso”, afirmou Lula.
Marisa foi morta por “gente sem alma”
O ex-presidente também falou de seu drama pessoal. “Não é fácil o que sofrem os meus filhos, o que sofrem os meus netos. A antecipação da morte da Marisa foi a sacanagem dessa gente. Essa gente não tem alma”, afirmou.
Lula também disse que resolveu levantar a cabeça. “Não pensem que eu sou contra a Lava Jato. Agora, qual é o problema. Você não pode fazer julgamento subordinado à imprensa. Você destrói a pessoa e depois o juiz diz que não pode contrariar a opinião pública. Quem quiser votar de acordo com a opinião pública, que rasgue a toga”, afirmou. Ele também disse ter sido condenado por Moro a mando da Rede Globo.
“Lula, Moro e a Lava Jato têm um sonho de consumo. O golpe não terminou com a Dilma. O golpe só termina se não me deixarem participar da eleição. Eles não querem o Lula de volta porque, na cabeça deles, pobre não pode ter direito”, afirmou. “O outro sonho deles é a foto. Fico imaginando o tesão da Veja e da Globo com a minha foto preso. Eles vão ter orgasmos múltiplos.
Eles decretaram a minha prisão e eu vou atender o mandado deles. Quero fazer a transferência de responsabilidade. Eles vão descobrir pela primeira vez o que eu tenho dito todo dia. O problema desse País não se chama Lula, é a consciência do povo brasileiro. Tem milhões e milhões de Lulas para andar por mim”.
Homenagem a Dilma
Antes da fala, ele também saudou vários companheiros. “Quero cumprimentar meu companheiro Aloizio Mercadante. Se eu tivesse tantos títulos, eu seria presidente da República. Guilherme Boulos é um companheiro da mais alta seriedade. Ele tem só 35 anos. Você tem futuro, meu irmão. Quero saudar essa menina bonita e inteligente, a Manuela”, afirmou.
A maior homenagem, no entanto, foi dedicada à presidente deposta Dilma Rousseff. “Quero agradecer a esta mulher. A mais injustiçada das mulheres que um dia ousaram fazer política neste País. Eu quero ser testemunha de vocês. A Dilma foi a pessoa que meu deu a tranquilidade de fazer quase tudo que eu consegui fazer na presidência da República, pela confiança, pela seriedade e pela competência técnica da Dilma. Sou grato de coração. Não teria sido o que fui sem a Dilma.” (Fonte: uol)