Em uma grande reportagem publicada pelo jornal The Guardian, o repórter Andrew Brown investiga os bastidores do Vaticano, repletos de críticas, medos e muita inveja. No centro de tudo, um papa diferente: Jorge Bergoglio.
O texto, datado de sexta-feira (27), e disponível no site do jornal, diz que o papa Francisco é um dos homens mais odiados do mundo hoje. Não por ateus, protestantes ou muçulmanos. Mas por alguns de seus próprios seguidores.
Francisco vem revolucionando e conquistando o mundo. Primeiro papa sul-americano e jesuíta. Inovou enxugando o número de funcionários do Vaticano, apareceu dirigindo um Fiat e carregou as próprias malas. Lavou pés de refugiados. Sobre os homossexuais, ele disse: “Quem sou eu para julgar?”.
Novidades demais para uma religião tão afeita a tradições e dogmas. Os conservadores o odeiam, como já indicava a correspondente da RFI Brasil em Roma. Como admitiu um religioso ao jornalista do Guardian: “Estamos aguardando ansiosamente a sua morte. É impublicável o que conversamos entre nós. Os cardeais se reúnem e comentam como Bergoglio é odioso. É um Calígula, se tivesse um cavalo, faria dele um cardeal”. O termo heresia é frequente nesses encontros.
Divórcio e homossexualidade
Andrew Brown lembra que a crise atual é a mais séria desde a cisão dos anos 1960, quando um pequeno grupo de extremistas conservadores, liderados pelo arcebispo francês Marcel Lefrebvre, se afastou da Igreja. Um arcebispo do Kazaquistão, diz que a visão de Francisco sobre divórcio – o papa é a favor da comunhão para divorciados – e o homossexualismo são como “a fumaça de Satã” invadindo o catolicismo.
“A Igreja Católica passou a maior parte do século passado lutando contra a revolução sexual, contra a democracia do século 19”, lembra o jornalista, “defendendo uma causa impossível de absolutismo, onde todo o tipo de contracepção artificial é proibida, assim como o sexo fora de um casamento para a vida toda”.
A extensa reportagem analisa a crise da religiosidade e do catolicismo, fortemente abalado pelos escândalos financeiros e de pedofilia. O papa ousa, mas também sofre com as pressões, avalia o texto. Para que as mudanças trazidas por Francisco sejam duráveis, a igreja precisa aceitá-las, acredita o autor. Bergoglio já tem 80 anos, lembra Brown. “O futuro da Igreja Católica depende do próximo papa”, conclui.