Artigo do leitor: “Memento Mori”

0
2

Certa feita num antigo mosteiro, um jovem aluno encontrou seu colega muito transtornado e, vendo-o daquela forma, perguntou: – O que houve? Por que estás assim?

– Este mestre já não me serve mais. Estou farto dele. Seguirei meu caminho sozinho ou com alguém que possa completar meus conhecimentos! Respondeu o colega.

Assustado, apressadamente o jovem aluno foi ao encontro de seu mestre, e o saudando com o sinal da paz, disse: – “memento mori”, Mestre! Acabo de ver o colega cheio de fúria. Não o reconheci. Como pode, após tantos anos de ensinamentos??

Retribuindo movimento de paz com as mãos unidas, suavemente, ele respondeu: – “carpe diem”, nobre aluno. Há lições na vida que muitos não conseguem entender. O respeito para com a sabedoria é algo que nunca deve ser perdido. Enquanto eu o apoiei, incentivei e estive ao seu lado, sem discordar, fui considerado o exemplo… o admirado… o respeitado. Entretanto, após discordar uma, duas, três vezes das suas atitudes, para ele, tornei-me sem valor, perdendo o reconhecimento, e o respeito por todos ensinamentos ofertados de bom coração. Hoje, sou como uma pedra atrapalhando o caminho de um elefante; como um vento contrário cansando o passarinho na sua jornada ou como a correnteza que exige força dos peixes na piracema. Porém, meu jovem aluno, ele não tem a compreensão de que o elefante leva anos para se tornar grande, ter força para superar os seus obstáculos e ser considerado um dos animais mais inteligentes do mundo; também não compreende que é com a força dos ventos contrários que os pássaros aprendem a enfrentar suas limitações e voar belamente pelo céu; e é com a correnteza, nadando contra o rio, que os peixes executam o exercício necessário para o importante processo de reprodução da sua espécie. Ensinamentos que a natureza nos dá dia após dia.

Ainda assustado com a atitude desrespeitosa do seu colega e percebendo um silêncio que o mestre deixou ao concluir a fala, o jovem aluno o questionou: – Mas, mestre, o senhor irá deixá-lo ir?

– Somos livres para fazer nossas escolhas, meu jovem aluno. Mas, também, somos responsáveis por suas consequências. E eu não posso prendê-lo. Que a vida o ensine a ter sabedoria, e que, principalmente, saiba usá-la. Que ensine a ter paciência, para que possas compreender e respeitar seus mestres; e que aumente a fé, para aceitar os desígnios da natureza. Respondeu o mestre.

Em seguida, o mestre saudou seu aluno, dando por encerrado aquele diálogo. – “Memento mori”, jovem aluno. Unindo as mãos e demonstrando ter absorvido o ensinamento ofertado naquele instante, o jovem aluno respondeu – “carpe diem”, mestre.

 Andando pelos corredores do mosteiro, o jovem aluno viu seu colega com um pequeno punhado de roupas, uma porunga e um pouco de comida num pequeno cesto. Aproximou-se do colega, o olhou nos olhos, disse: – “memento mori… memento mori”.  e afastou-se, permitindo que o colega seguisse seu caminho.

Que o texto seja uma reflexão, pois vivemos diariamente escolhendo caminhos, criando e perdendo oportunidades por não compreender e respeitar os ensinamentos da vida. “carpe diem!”.

Por Mário Pires,  Escritor, compositor e Gestor de Marketing.

Obs.: As expressões “memento moris” e “carpe diem”, segundo pesquisas, era uma forma de saudação, em latim, de antigos mosteiros. “memento moris” significa “lembre-se de que você vai morrer” e “carpe diem”, “aproveite o dia”; Porunga é um Recipiente para armazenar líquido.