Na semana do Dia Nacional de Defesa da Fauna comemorado na última quinta-feira (22), o Centro de Conservação e Manejo de Fauna da Caatinga (Cemafauna Caatinga) com sede no Campus de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) em Petrolina, interior de Pernambuco, não para e cotidianamente presta serviços para a sociedade, em especial, no que diz respeito a conservação ambiental. De 2008 até julho desse ano, cerca de 133 mil animais foram resgatados, desse total, 87% deles foram reintroduzidos na natureza depois de passar por todo o processo de triagem, cuidados médicos, alimentação e reabilitação para a vida selvagem.
Veados, tatus, tamanduás, macacos, cachorros-do-mato, gatos-do-mato, guaxinins, papagaios, maracanãs, jiboias, e muitos outros já foram devolvidos ao seus habitats naturais. Alguns exemplares de algumas espécies são mantidos em coleções científicas de cada um dos cinco grupos de fauna – mamíferos, peixes, répteis, aves e insetos – para estudo. Com um acervo estimado em mais de 130 mil exemplares as Coleções Científicas são visitadas por pesquisadores, professores e estudantes das mais variadas regiões do país, a exemplo da entomóloga Aline Andrade que atua como pesquisadora nas áreas de Ecologia comportamental, química e genética de abelhas Euglossini e para seu Pós-doutorado em andamento em Genética e Evolução pela Universidade Federal de São Carlos, utiliza o acervo da coleção de entomologia do laboratório do Centro.
O Cemafauna surgiu inicialmente para atender as demandas de resgate e monitoramento de fauna nos trechos sob influência das obras do Projeto de Integração do São Francisco com as Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional (PISF) realizado pelo Ministério da Integração Nacional (MI). A primeira instalação foi o Centro de Triagem de Animais Silvestres (CETAS) que começou a funcionar ainda em 2008 como requisito das demandas do Programa Básico Ambiental 23 (Programa de Conservação de Fauna e Flora) sendo o único num raio de 500 km, o mais próximo está em Salvador/BA na sede do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Hoje, além de atender a demanda do resgate de fauna, sua localização estratégica possibilita o atendimento a diversos órgãos de fiscalização ambiental auxiliando no combate ao tráfico de animais silvestres, visto que Petrolina está inserida nas rotas dessa prática ilegal.
A área de atuação do Centro estende-se por todo o semiárido nordestino do Brasil, que compreende uma extensão de 982.563,3 km². Além dos diversos municípios que abrigam a obra do Projeto de Integração do São Francisco nos estados de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte, o Cemafauna também realiza ações no estado da Bahia participando de operações de fiscalização ambiental a exemplo da Fiscalização Preventiva Integrada (FPI) realizada pelo Ministério Público da Bahia em parceria com diversos órgãos ambientais. “Nós recomendamos à população que ao encontrar animais silvestres em suas residências, primeiro entrem em contato com os órgãos fiscalizadores para que então sejam tomadas as medidas necessárias para a recuperação desses animais”, afirma a coordenadora técnica e gerencial do Centro, Patricia Nicola.
Além disso, desde 2012 através do Museu de Fauna da Caatinga realiza ações de cunho socioambiental fomentando atividades, visitas guiadas e palestras temáticas sobre a importância da conservação da fauna da caatinga. No hall, cerca de 40 peças de animais típicos da caatinga taxidermizados estão em exposição com o intuito de ilustrar a rica fauna que é composta por mais de 1.500 espécies entre aves, mamíferos, anfíbios, peixes, répteis e insetos. Ainda nesse espaço é possível interagir com totens, dispositivos tecnológicos com vídeos, fotos, mapas e conteúdos sobre o trabalho desenvolvido pelo Cemafauna a favor da natureza.
“Já são 30 anos dedicados à conservação e ao manejo de fauna brasileira. Há oito conseguimos realizar um sonho que nos traz a sensação de missão cumprida, mas também de que há muito a se fazer sempre”, afirma o coordenador geral do Cemafauna, o biólogo e professor Luiz Cezar Pereira. Ao longo de todo esse tempo agindo nas caatingas, os analistas enfrentam a resistência de alguns, presenciam as tentativas de tráfico de animais silvestres que ocorrem com bastante frequência, mas também têm momentos de imensa satisfação. As solturas são prova de que o trabalho desenvolvido durante todos esses anos não está sendo em vão. “A cada soltura nós esperamos que os animais continuem o ciclo de vida natural, sobrevivam e se reproduzam. Esse é o final feliz que mais buscamos que aconteça”, declara a médica veterinária Geiza Rodrigues.
Dia Nacional de Defesa da Fauna
A data ficou instituída a partir da publicação no Diário Oficial do Decreto n° 3.607 assinado pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso em 22 de setembro de 2000. O documento designou o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) como autoridade administrativa para implementar a Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção (CITES).