Como diz a música de Tom Jobim, “tristeza não tem fim, felicidade sim”. A contagem regressiva em homenagem a Santos Dumont anunciava neste domingo (21) que era hora de o maior evento esportivo do mundo decolar de um dos dois aeroportos da Cidade Maravilhosa para uma viagem de quatro anos rumo ao Japão, em Tóquio-2020. Depois de receber em sequência, num intervalo de dois anos, uma Copa e a 31ª edição dos Jogos Olímpicos — como os Estados Unidos no Mundial de 1994 e Atlanta-1996 — o Brasil recorreu mais uma vez à música para se despedir das 207 nações que competiram durante 19 dias, a contar da estreia do futebol feminino, no último dia 3. E matar o país de saudade — um conceito que só existe na língua portuguesa.
Martinho da Vila e filha Mart’nália, interpretaram “Carinhoso”, de Pixinguinha e João de Barro, anunciando um carnaval fora de época no Maracanã. Não adiantou cantar “mas mesmo assim foges de mim” para a Rio-2016. A dispersão dos Jogos tinha de continuar na improvisada Marquês de Sapucaí com direito a Roberta Sá interpretando Carmem Miranda, samba, frevo e muita música regional produzidos pela carnavalesca Rosa Magalhães, hexacampeão do carnaval carioca. Estrelas do show, os atletas pisaram na arena ovacionados pelo público.
Protagonista de duas pratas e um bronze na canoagem, Isaquias Queiroz foi o mais festejado pelo público. Precisou até parar para tirar selfies. O baiano foi escolhido porta-bandeira da
delegação do Brasil. Usain Bolt, ouro nos 100m, nos 200m e no revezamento 4 x 100m, deixou o Rio como um raio e foi o principal desfalque durante a entrada dos heróis olímpicos. Logo ele, dono de uma coleção de nove medalhas de ouro em Pequim-2008, Londres-2012 e Rio-2016. Sentados, os atletas se emocionaram ao som de “Mulher Rendeira”, de “Asa Branca” e de Lenine ao som de “Jack Soul Brasileiro”.
Mas não houve emoção maior para os atletas do que rever as conquistas. A cada imagem de medalha brasileira a plateia protagonizada gritos ensurdecedores. A projeção do golaço de falta de Neymar na decisão do futebol masculino, no Maracanã, só perdeu para a histeria causada pelos títulos de Isaquias Queiroz, Michael Phelps e Usain Bolt. A Rio-2016 quebrou a tradição de a chegada da maratona ser no estádio olímpico, mas o COI manteve o protocolo de entregar as medalhas na cerimônia de encerramento. O presidente Thomas Bach e Sebastian Coe premiaram o queniano Eliud Kipchoge (ouro), o etíope Feyisa Lilesa (prata) e o norte-americano Galen Rupp (bronze), vencedores da prova disputada ontem, com chegada no Sambódromo.
O COI também fez homenagens a atletas, entre elas, a russa Yelena Isinbayeva, que foi impedida de competir no Rio por causa de doping. Em entrevista no Brasil, na última sexta-feira (19), a bicampeã olímpica no salto com vara anunciou a aposentadoria.
Japão
A saudade bateu mais forte quando o Rio entregou a bandeira olímpica às mãos de representantes do governo
de Tóquio, sede dos Jogos de 2020. E os japoneses deram uma bela amostra grátis do que planejam para daqui a quatro anos, focando principalmente na cultura dos games do país, tendo personagens como Hello Kitty e Super Mario como estrelas em uma apresentação que terminou com a mensagem em inglês: “Vejo vocês em Tóquio”.
Depois de uma homenagem ao artista Burle Marx e da tocante interpretação de “Pelo Tempo que durar”, de Mariene de Castro, com efeito visual de chuva. E a chama dos Jogos Olímpicos do Rio-2016 se apagou na belíssima mandala do Maracanã. Para encerrar a festa, Cidade Maravilhosa e escolas de samba encerraram o carnaval fora de época.
Vaias ao prefeito do Rio e gafe de Nuzman
A parte política da cerimônia de encerramento teve vaias ao prefeito do Rio, Eduardo Paes, e um discurso emocionado do presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e do Comitê Rio-2016, Carlos Arthur Nuzman. “O melhor lugar do mundo é aqui, no Rio. Convido a todos para celebrar essa grande vitória. Os Jogos do Rio ficarão para sempre na memória e no coração dos homens, mulheres e jovens que foram tocados pela chama olímpica”, discursou.
Emocionado, Nuzman cometeu uma gafe ao fim do discurso e esqueceu de convidar o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, a assumir o púlpito. “Parabéns, cariocas, nós os amamos”, iniciou o alemão, em português. “A alegria de vocês aqueceu os nossos corações. Nós continuaremos com vocês mesmo depois dos Jogos do Rio. A história vai falar do Rio antes e depois dessa Olimpíada”, disse, arrancando aplausos de pé quando agradeceu a presença dos atletas refugiados nos Jogos.
Pelé saúda os súditos
Depois de recusar o convite do Comitê Rio-2016 para acender a pira olímpica na cerimônia de abertura por causa
de problemas de saúde, Edson Arantes do Nascimento, o Rei Pelé, se manifestou nas redes sociais saudando os súditos que ficam e os que deixaram o país. “O nosso papel de anfitriões orgulhosos da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos está chegando ao fim. O Brasil recebeu o mundo de braços abertos e mostrou para todos o nosso modo especial de vida — tanto no trabalho quanto na diversão. Houve momentos inesquecíveis de habilidade e espírito esportivos — bem como alguns transtornos e surpresas ao longo do caminho. Eu também esperei minha vida inteira para ver o Brasil ganhar uma Medalha de Ouro no futebol e agora meu sonho se tornou realidade. Desejo a todos uma boa viagem de regresso e por favor, venham nos visitar novamente em breve”. (CB)