Fenômeno La Niña preocupa pesquisadores da Bacia do São Francisco

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Pesquisadores já admitem a possibilidade de uma onda de resfriamento afetar, ainda este ano, as águas do rio São Francisco, o que eles chamam de fenômeno La Niña. A informação foi reconhecida pelo professor José Almir Cirilo, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), durante a programação do I Simpósio Acadêmico da Bacia do Rio São Francisco, cujos debates foram realizados em Juazeiro (BA). Para ele, o cenário se tornará “preocupante” porque distúrbios climáticos, como secas e enchentes, passariam a ocorrer de forma acentuada. A anomalia atua em condições reversas ao El Niño, que se associa ao aquecimento das águas superficiais.

Cirilo lembrou que esse novo fator climático, apesar de contribuir para a chegada de chuvas na região Nordeste, poderá reforçar ainda mais o clima de estiagem que perdura na bacia, numa realidade em que “a demanda ultrapassa a oferta de água”. O rio São Francisco passa por uma severa seca, que vem resultando no esvaziamento de um dos principais reservatórios da sua calha, Sobradinho, na Bahia. Ano passado, o reservatório chegou a atingir 1% da sua capacidade útil de armazenamento, comprometendo o abastecimento de populações ribeirinhas dos estados da Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe.

O especialista, que compôs a mesa do turno da manhã destinada a debater a qualidade da água no São Francisco, lembrou que as obras da transposição ficarão comprometidas, caso a barragem não volte a aumentar o seu volume hídrico. “O equilíbrio entre a oferta e a demanda de água é o que assegura o desenvolvimento econômico dessas regiões”, disse.

A transposição precisa de 26,4% m3/s de vazão de Sobradinho para que os 12 milhões de nordestinos previstos pelo projeto tenham acesso à água são franciscana. Eles se encontram espalhados pelos estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. Agendada para ser entregue no final de 2016, obra está atrasada há quatro anos, ultrapassando a marca dos R$8,2 bilhões em investimentos, o dobro do previsto inicialmente. “Ela só se tornará, de fato, efetiva quando as estruturas complementares forem finalizadas”, completou ele, referindo-se às obras que estão sendo executadas em paralelo pelos governos estaduais a fim de levar água para os principais polos econômicos do Nordeste Setentrional. Segundo o técnico, algumas delas se encontram em atraso, sem estimativa de término.

O Simpósio do São Francisco foi realizado na Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), às margens do Velho Chico. Encabeçado pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), em parceira com a instituição científica, o evento reúne pesquisadores de todo o país para discutir cinco eixos temáticos: qualidade da água, quantidade de água, dimensão social e saúde, governança, e conservação e recuperação hidroambiental. (CBHSF).