A luz vermelha se acendeu para todo o sistema hidrelétrico da Chesf. Com a iminência de chegada do volume morto, no Lago da Barragem de Sobradinho, no Rio São Francisco, responsável pela geração de 60% da energia hidrelétrica para toda a Região Nordeste, a Agência Nacional de Águas (ANA) antecipou a reunião que só deveria acontecer na próxima segunda-feira (30), para hoje (25), em Brasília, quando deverá decidir pela redução anda mais da vazão do lago da Barragem de Sobradinho, antecipando a chegada do volume morto.
Com a chegada do volume morto, que é quando o volume útil de água acumulado no lago chega na cota zero, não há como a água passar pelas turbinas e toda geração de energia a partir de Sobradinho será interrompida. Com isso serão afetado não só o complexo hidrelétrico de Paulo Afonso, onde existem seis hidrelétricas, incluindo a de Itaparica, mas também o complexo hidrelétrico de Xingó, a última e a maior usina hidrelétrica do Rio São Francisco.
A reunião, que contará com a participação do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco, Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), Instituto Brasileiro do meio Ambiente (Ibama) e do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) deverá anunciar a redução da vazão do lago, diminuindo o fluxo de água que sai pelos vertedouros da barragem como forma de garantir um volume mínimo de acumulo de água na barragem. Atualmente a barragem de Sobradinho mantém uma vazão média de 930 metros cúbicos de água por segundo, e poderá reduzir esse volume para 800 e até 400 m/³ por segundo.
Atualmente, a prioridade não é mais a geração de energia elétrica e sim o abastecimento humano desta energia, explicou o superintendente de Operação da Companhia da Chesf, João Henrique Franklin. A situação é considerada crítica pela Chesf, que estima ser esta a maior seca dos últimos 84 anos, tempo em que a Companhia está instalada na região.
No domingo (22) o volume útil de água no Lago de Sobradinho atingiu 1,8%, e mantendo a tendência, chegará hoje com menos de 1,5%, atingindo o limite zero até o início da próxima semana.
Reunião emergencial
Na reunião de amanhã, Brasília, será avaliada a situação dos reservatórios e discutir o pedido formulado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) de redução da vazão dos atuais 900 m3/s para 800 m3/s. Para a Chesf, conforme explicou o superintendente de Operações, João Henrique Franklin, mesmo não havendo geração de energia a partir de Sobradinho, não haverá “apagão” no Nordeste.
Isso porque existe uma reserva estratégica de sete mil MegaWatts (MW) a partir da geração eólica e outros cinco mil MW de usinas térmicas, capazes de suprir a demanda de 10 mil MW proporcionada pela geração hidrelétrica. “O sistema elétrico tem outras fontes de suprimentos, como usinas térmicas e eólicas que minimizam a geração de natureza hidroelétrica, garantindo o atendimento para todos os consumidores da região Nordeste”, explica Franklin.
Para a Chesf, mesmo com a situação atingindo níveis alarmantes de gravidade, não há risco de racionamento ou apagão. “Nossa preocupação agora não é com a energia elétrica, mas de manter o máximo do reservatório por conta dos irrigantes, e especialmente do abastecimento humano”, disse, acrescentando que os parques de energias eólicas e térmicas hoje instaladas no Nordeste dão essa garantia.
Mesmo com a perspectiva de atingir 0% do volume útil nos próximos dias, com a geração de energia na usina de Sobradinho suspensa, a a Chesf garante que mesmo com comportas fechadas e sem a passagem de água, com as turbinas desligadas ,o curso natural do rio seja mantido. Atualmente, das seis turbinas da barragem de Sobradinho, apenas uma está funcionando com 50% da sua capacidade.
Com o volume morto, esta última também será desligada e a água que sairá do lago Serpa suficiente apenas para manter o leito natural do Rio São Francisco.
Chuvas frustraram expectativas
As chuvas que vêm caindo no Norte de Minas Gerais frustraram as expectativas de uma mudança a curto e médio prazo na situação de seca da Bacia do Rio São Francisco. O Lago de Sobradinho dispõe de pouco mais de um bilhão de metros cúbicos de água acima do volume morto.
Apesar das fortes chuvas em Minhas Gerais, elas não atingiram a nascente do rio, o que impossibilitou a chegada de água na região. Isso se verifica na Barragem de Três Marias, a primeira do sistema hidrelétrico do São Francisco, localizada próxima às nascentes, no Norte de Minas Gerais, que no domingo estava com apenas 8,8% do seu volume útil de água.
A Barragem de Sobradinho estava na última sexta-feira á na cota 381, com volume total disponível de 6,052 bilhões de metros cúbicos de água, o equivalente a 17,74 % da sua capacidade total de armazenamento. Desse volume, 5,45 bilhões de metros cúbicos são considerados volume morto, suficiente para garantir o abastecimento, sem a geração de energia, por um período de três meses, caso não chova.
Comitê em alerta
O presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco, Anivaldo Miranda, disse que apesar da gravidade da situação, seria melhor e4sperar mais alguns dias para ver o resultado das chuvas que caem no norte de Minas gerais, para só então se decidir por uma redução da Vazão do lago de Sobradinhno. “Sabemos que a situação é crítica, mas é preciso analisar os impactos que isso vai acarretar na qualidade da água consumida pela população situada no Baixo São Francisco”, disse.
Segundo os dados do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (INPE), nos dois últimos anos choveu menos 80% do que seria esperado e para o período até maio, as probabilidades indicam chuvas 40% abaixo da média histórica. Miranda lembra que no início do ano, quando a vazão do lago ainda estava em 1.300 m³ /s, uma mancha de 35 quilômetros se formou a partir da Barragem de Xingó em direção à foz. “É preciso alterar a agenda de uso do rio, não mais como prioridade da matriz energética, mas sim de multiuso para o abastecimento”, disse. (Tribuna da Bahia).