A influência que a mídia tem sobre a formação emocional de nossas crianças é muito grande. O Brasil é o país em que as crianças mais assistem à TV. A média é de 3h50 minutos por dia. Como as crianças ficam, em geral, 5 horas na escola, pode-se perceber a gravidade da situação: o tempo de influência da escola e da TV é praticamente o mesmo, já que na escola há intervalos, recreio, lanche…
Pesquisando sobre a influência da mídia na autoestima de crianças, perguntei a uma menina de seis anos de idade se ela gostava de si mesma e se as outras pessoas gostavam dela. Sua resposta foi surpreendente! Ela disse que sim, pois gostava dela mesma por ser bonita, e que as outras pessoas gostavam dela por ser magrinha. Num primeiro momento pode-se achar que a autoestima dessa menina está legal, pois ela gosta de si e percebe os outros gostando dela. No entanto, as razões que justificaram suas respostas são assustadoras. Com seis anos de idade ela já está preocupada com a beleza e com o fato de ser magra. Para ela, pessoas de valor são pessoas bonitas e magras.
Ela, assim como outras crianças, já é vítima da influência da mídia, da moda, dos concursos de miss, das grifes e de outros contra-valores que lhes são transmitidos diariamente.
Temos que, como pais, como escola, apresentar os valores. Não adianta apenas combater o que está errado, precisamos ensinar o certo.
É claro que podemos falar de moda, estética, beleza e outros fatores relacionados com a aparência, mas esses valores que estão sendo repassados não devem dirigir as nossas vidas.
Para um melhor resultado na construção de uma auto-estima saudável nas crianças, é necessário que você, mãe e pai, também tenham uma boa autoestima. Você precisa gostar de si, investir tempo e dedicar-se a coisas que gosta, valorizar-se. Um pai, por exemplo, pode dizer à esposa: querida, vou jogar bola sábado à tarde, sem peso na consciência, certo de que está investindo em sua saúde mental, além da física.
E a mãe: querido, vou jantar com minha amiga na sexta à noite. Ainda não sabemos aonde vamos, mas vamos nos divertir.
Esses pequenos exemplos são apenas para evidenciar algo que não é fácil fazer, principalmente para nós pais acostumados a nos entregar de corpo e alma no trabalho e na criação dos filhos, deixando de lado a nós mesmos.
Um pai, ou mãe, de bem com a vida, contagia positivamente seu filho e toca seu coração para que aprenda, desenvolva-se e assuma os fracassos e as vitórias em sua caminhada como ser humano realizado e feliz. Na escola, o melhor presente que seu filho pode ter é ser educado por professores de bem com a vida e de bem com eles próprios. Pessoas felizes.
Não é fácil investir na autoestima, pois a mídia e o consumismo enviam diariamente mensagens contrárias. Uma mulher bonita é chamada de modelo. Modelo do quê? Se há modelo, tem que haver cópias. As mulheres olham para a modelo e se percebem diferentes dela. Sentem um vazio interior e pensam em preenchê-lo. O consumismo sai ganhando, a autoestima, não.
E nossos filhos? Que mensagens recebem? Os programas de TV apresentam constantemente contra-valores. Essas mensagens irão determinar como nossos filhos serão? Irão determinar sua honestidade, solidariedade, respeito e outros valores? Infelizmente, se não fizermos nada no sentido contrário, irão sim. Precisamos construir valores. Gastar tempo com as crianças, ouvindo-as, interagindo com elas, ensinando-as sobre valores, princípios, dando exemplos que possam servir como orientadores de conduta para elas. Esse tempo de qualidade e de intensidade, vivido com nossas crianças será mais forte que a mídia. Os nossos valores vencerão.
E, mais tarde, nossos filhos saberão amar-se e amar.
Marcos Meier é psicólogo, professor, escritor e palestrante. (Revista Doce de Nascer).